Livros no Blurb

terça-feira, 31 de julho de 2007

Camões, grande Camões…

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:

Lubíbrio, como tu, da sorte dura,
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.


Manuel Maria Barbosa du Bocage


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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Quinta das Canadas 4

Líquenes de várias espécies sobre tronco de castanheiro (Castanea sativa)

A quinta encontra-se na área demarcada do queijo da serra


A quinta tem uma apreciável diversidade ambiental e também se encontra numa situação geográfica que lhe confere, pelo menos por enquanto, claras diferenças sazonais. É por isso que as suas comunidades biológicas são tão ricas. Tal facto é mais notório ao nível das comunidades zoológicas uma vez que a intervenção milenar do homem sobre a paisagem terá modificado profundamente os ecossistemas naturais e suas espécies vegetais características. O ambiente actual é aquilo que costumo designar de meio rural, isto é, um ecossistema antropogénico, muito heterogéneo, mas do qual diversos animais dependem para a sua subsistência.
Nos prados e lameiros avultam algumas plantas anuais da família das gramíneas, das compostas, etc. Para os vertebrados, estes ambientes funcionam sobretudo como fonte de alimento embora as toupeiras (Talpa occidentalis) e os ratos-toupeiros (Microtus spp.) aqui residam. Os povoamentos arbustivos são dominados pelas giestas, em particular a giesteira-branca (Cytisus multiflorus) e a giesta-negral (Cytisus striatus). A esteva (Cistus ladanifer) costumava ser rara mas desde há uma dezena de anos que tem vindo a aumentar de abundância. No final do inverno surgem os belos Narcissus triandrus. Os giestais apresentam ainda silvas (Rubus sp.), pilriteiros (Crataegus monogyna) e jovens carvalhos, para além de outros arbustos e ervas. Também aqui há poucas espécies de vertebrados residentes. Estas preferem o parque florestal, o carvalhal, o soito e as galerias ribeirinhas, ou seja, os habitats mais estruturados, mais complexos, de maior "oferta ecológica".

sábado, 28 de julho de 2007

Correm turvas as águas deste rio…

Correm turvas as águas deste rio,
que as do Céu e as do monte as enturbaram;
os campos florecidos se secaram,
intratável se fez o vale, e frio.
Passou o Verão, passou o ardente Estio,
üas cousas por outras se trocaram;
os fementidos Fados já deixaram
do mundo o regimento, ou desvario.
Tem o tempo sua ordem já sabida;
o mundo, não; mas anda tão confuso,
que parece que dele Deus se esquece.
Casos, opiniões, natura e uso
fazem que nos pareça desta vida
que não há nela mais que o que parece.


Luís Vaz de Camões



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sexta-feira, 27 de julho de 2007

Fotografia 4

Planta de jardim


No seguimento do que já escrevi acerca dos 3 principais tipos de câmaras digitais de pequeno formato apresento aqui um artigo que ajudará quem estiver com vontade de comprar uma máquina fotográfica e tiver dúvidas sobre qual dos três tipos escolher. Como em diversas outras escolhas, os nossos gostos e prioridades tendem a sobrepor-se às características técnicas dos aparelhos mas há que ter cuidado e tentar procurar um compromisso entre os vários factores em jogo.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O navio de espelhos

O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

E no mastro espelhado
uma espécie de porta

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ála
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo


Mário Cesariny (A Cidade Queimada, o navio de espelhos XIII, 1977)

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Mértola


Paisagem típica do concelho de Mértola: pousios-pastagem e manchas de esteval. Na segunda imagem vê-se, ao fundo, a serra de Alvares (Penilhos) [© AnPena 2007]

Tinha de ser! Há mais de 20 anos, ainda antes de Portugal entrar para a então Comunidade Económica Europeia (CEE), entre nós, sócios da Naturibérica, Lda., discutíamos sobre o que poderia acontecer no concelho de Mértola de muito negativo e na altura só nos ocorreu pensar que uma área tão vasta, com solos paupérrimos de fraca (ou nula) aptidão agrícola e até de diminuta aptidão florestal, longe de tudo, de baixíssima densidade populacional, se "arriscava" a atrair industrias extremamente poluidoras que poderiam fazer o seu "trabalho sujo" à vontade pois ninguém se iria queixar.
Hoje li uma notícia preocupante. Parece que por razões de segurança, seja qual for a opção para o novo aeroporto de Lisboa, o campo de tiro de Alcochete vai ter que sair de onde se encontra e a hipótese que já corre pelos meios militares é a do concelho de Mértola que teria uma localização ideal justamente devido às suas características populacionais e agro-florestais.
Pois foi exactamente devido a elas e ao facto de ter aqui existido durante séculos uma actividade agrícola e uma silvopastorícia extensivas, de fraca incorporação tecnológica, que até hoje se manteve neste território um dos mais ricos patrimónios naturais de Portugal, que aliás esteve na base da criação do Parque Natural do Vale do Guadiana.
Não sei se as nossas Forças Armadas precisam de um campo de tiro onde, por exemplo, jactos em voo rasante lançarão bombas sobre terrenos que alguns denominarão de estéreis, de improdutivos, mas que acolhem uma comunidade de avifauna estepária de grande valor de conservação. Sei, porém, que quanto à localização de actividades polémicas e de grande impacto funciona naturalmente a política do nimby (not in my back yard). Ficarei atento a novos desenvolvimentos e sobretudo à reacção das ONGs ambientalistas.


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terça-feira, 24 de julho de 2007

Os meus livros 4

Capa do livro sobre o concelho de Sintra

Em 1992, a C. M. de Cascais editou o livro Cascais. Um olhar sobre a natureza, que realizei em co-autoria com o Luís Gomes, um dos meus sócios de então. Tem dois capítulos fundamentais: "Caracterização biofísica global" e "Caracterização ecológica". Falámos dos aspectos naturais do município em função de uma divisão do mesmo em 4 zonas distintas: "Zona de intensa ocupação humana", "Zona agrícola", "Zona costeira" e "Zona serrana". No final apresenta-se um glossário de termos técnicos, um conjunto bibliográfico seleccionado e uma lista de espécies florísticas e faunísticas do concelho.

domingo, 22 de julho de 2007

As saudades do mar

Escoam-se os minutos vãos
como se escoa o pranto
e eu olho com raiva e espanto
as minhas mãos.

Vazias. Estrangularam o vento.
E seu voo, quando querem voar,
é lento como o desalento.

— Que saudades do mar.

Do mar daquela terra estilhaçada
que é minha, da minha raça
que não tem direito a nada
mas tem direito à desgraça.

Desgraça. E as minhas mãos olhando,
com raiva e espanto, eu cismo
que são dois pedaços de cortiça boiando
no tempo, à beira do abismo.

Sidónio Muralha (in Fanha, J. & Letria, J.J., 2002: Cem poemas portugueses do adeus e da saudade. Terramar)

sábado, 21 de julho de 2007

Quinta das Canadas 3


Duas perspectivas da área agrícola. Nesta última vê-se, ao fundo, a Estrela

A quinta situa-se em área serrana, numa zona de transição geológica xisto-granito, a cerca de 700 metros de altitude. A sua topografia é acidentada e através destes terrenos fluem diversas linhas de água, integradas na bacia hidrográfica do Mondego, sendo a principal a ribeira das Canadas. A maior parte da sua superfície apresenta solos pobres e muito pedregosos, o que lhes confere uma clara aptidão florestal. Os solos agrícolas são mais planos e estão ocupados por lameiros, pousios-pastagem, batatais, milheirais, etc… e soito (para produção de castanha). A zona florestal está colonizada por matos de giesta (giestais), bosquetes de carvalho-negral (Quercus pyrenaica), restos de pinhal, terras com um misto de mato e de cerejeira-brava (Prunus sp.), carvalho-roble (Quercus robur) e sobreiro (Quercus suber) de plantação recente. Por último, a envolver parcialmente a casa de família existe um parque florestal. Este representa uma mata de protecção com cerca de 55 anos que inclui uma grande diversidade de árvores, quer coníferas quer de folha caduca, pertencendo aos géneros Pinus, Abies, Picea, Cedrus, Cupressus, Pseudotsuga, Chamaecyparis, Juniperus, Larix, Sequoia, Sequoiadendron, Quercus, Tilia, Aesculus, Fraxinus, Acer, Fagus, Betula, Castanea, Gingko, Ilex, Liquidambar, Arbutus e Populus.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Fotografia 3

Para quem gosta de fotografia ou simplesmente para quem precisa de se informar sobre as características ou o preço de determinado aparelho existe o PhotographyBlog. Este é um "site" que apresenta as últimas novidades no mundo da imagem, tem artigos e testes a material variado, permite que qualquer pessoa possa ter um portfolio "on-line" gratuitamente ou que construa a sua própria galeria de imagens mas também apresenta um guia do comprador e fóruns de discussão.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Adeus

É um adeus…
Não vale a pena sofismar a hora!
É tarde nos meus olhos e nos teus…
Agora,
O remédio é partir discretamente,
Sem palavras,
Sem lágrimas,
Sem gestos.
De que servem lamentos e protestos
Contra o destino?
Cego assassino
A que nenhum poder
Limita a crueldade,
Só o pode vencer a humanidade
Da nossa lucidez desencantada.
Antes da iniquidade
Consumada,
Um poema de líquido pudor,
Um sorriso de amor,
E mais nada.

Miguel Torga (in Fanha, J. & Letria, J.J., 2002: Cem poemas portugueses do adeus e da saudade. Terramar)

terça-feira, 17 de julho de 2007

Os meus livros 3

Capa do livro sobre o concelho de Sintra

Em 1990, a Câmara Municipal editou Sintra. Um Concelho ao Natural/A Borough in the Wild. Este livro foi feito no âmbito da actividade da Naturibérica, Lda. e nele participaram os três sócios como co-autores do texto, e apenas eu e o José Cabral como autores da fotografia. A sua elaboração, como é hábito, foi precedida de aturado trabalho de campo abrangendo diferentes épocas anuais. Está estruturado em três capítulos principais, a saber: A faixa costeira; A serra de Sintra; A área agrícola. No final surge uma lista de espécies florísticas e faunísticas bem como algumas referências bibliográficas. Houve duas edições em simultâneo: uma em português e outra em inglês.
Com este livro passou-se um episódio curioso que passo agora a relatar. Em 1998 resolvi fazer uma busca na web com o meu nome, utilizando o Cusco como motor de pesquisa. Qual não é o meu espanto quando reparo que dos resultados da referida busca constavam diversas referências ao livro de Sintra, todas elas associadas à página do Ministério da Cultura. Com efeito, na sua página este ministério tinha uma espécie de versão livre do nosso livro. O que é estranho é que esta era uma versão traduzida do inglês por um tal Artur Lopes Cardoso que se permitiu acrescentar ao original, texto da sua lavra e algumas imagens. Por outro lado ficou claro que ninguém envolvido nestes lamentáveis acontecimentos tinha conhecimento de que existia uma versão portuguesa do livro.
Uma vez que houve da parte do ministério utilização indevida da obra, contactámos a Sociedade Portuguesa de Autores para que nos representasse e fizesse valer os nossos direitos. Por não ter sido possível chegar a acordo, o caso foi para tribunal e até ao presente ainda não foi produzida uma sentença final.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Lisboa em imagens 1

Panorâmica a partir do alto do elevador de Santa Justa

Vida

Do que a vida é capaz!
A força de um alento verdadeiro!
O que um dedal de seiva faz
A rasgar o seu negro cativeiro!

Ser!
Parece uma renúncia que ali vai
— E é um carvalho a nascer
Da bolota que cai!

Miguel Torga (Diário II, 1943)

Quinta das Canadas 2

Ovelhas pastoreando num soito (Novembro 2006)

Sob o dossel arbóreo do parque florestal (Novembro 2006)


A Quinta das Canadas é a quinta da minha família, que eu giro mais ou menos à distância desde 1992. Situa-se no interior beirão, na transição da Beira Alta para a Beira Transmontana, fazendo parte do concelho de Trancoso. Meu pai e meus avós paternos eram daqui. Apesar de ter feito a sua vida profissional em Lisboa, meu pai sempre manteve um enorme apego à sua terra natal e, por isso, assim que pôde comprou terrenos e pediu ao meu avô que, no fundo, tratasse de zelar para que a Quinta das Canadas tomasse corpo. No início dos anos 50 do século passado assim aconteceu. Na realidade, embora tivesse sido o meu pai que investiu e que tomou a maior parte das decisões, sem o acompanhamento e a presença constante do meu avô Pena, a quinta nunca teria sido o que foi (é).
Para mim, este foi um dos três locais fundamentais do "campo" português. Fundamentais porque foram determinantes na minha formação como pessoa e também nas decisões que tomei no decurso da minha vida profissional. A este respeito, as Canadas destaca-se como a zona mais marcante. Aqui passei, desde a mais tenra idade e durante mais de uma década, cerca de quatro meses e meio por ano (15 dias na Páscoa e no Natal e 3,5 meses nas férias de Verão). Ocupava-me o dia todo assistindo à rude e penosa faina agrícola, acompanhando os pastores ou com os meus irmãos atrás da passarada. Fiz muita asneira mas também adquiri muitos e preciosos ensinamentos que mais tarde iriam condicionar a escolha do curso que tirei, a facilidade com que vivo o campo e o grande gosto e respeito que tenho pelo nosso rico e diverso mundo rural.
Os outros locais que também me marcaram profundamente foram o Paul do Trejoito, junto a Benavente — uma zona de montado de sobro sobre areias terciárias, envolvendo aluviões férteis cultivadas de arroz — onde levei a cabo o meu estágio de fim de curso que incidiu sobre as comunidades de aves, e o concelho de Mértola do qual já falei a propósito do livro Fauna e Flora de Mértola. Uma Perspectiva Ecológica do Concelho. Infelizmente, por diversas razões, nunca mais voltei ao Trejoito e tenho ido muito pouco a Mértola.

domingo, 15 de julho de 2007

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos da alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acorbadadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar...

Mário de Sá Carneiro (Paris, 1913)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Quinta das Canadas 1

Quinta das Canadas (vista parcial): em primeiro plano destaca-se a área agrícola e a casa do rendeiro; em fundo surge a casa de família, envolvida pelo parque florestal (Fevereiro 2007)


Soito de castanheiros multisseculares (Fevereiro 2007)




quinta-feira, 12 de julho de 2007

Science Daily

Science Daily é um jornal "online" ou mesmo um portal da "web" sobre as últimas descobertas na investigação científica. É actualizado todos os 15 minutos e tem várias funcionalidades. Pode-se consultar as notícias mais recentes, procurar um determinado tópico, buscar significados ou definições, saber as últimas sobre novos tratamentos médicos, ver vídeos, ficar a par dos lançamentos editoriais mais relevantes numa dada área científica ou até procurar emprego.

Para quem tem interesse pela ciência vale a pena marcar esta página como favorita e/ou subscrever a "newsletter".

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Pastelaria

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
— ele há tanta maneira de compor uma estante!

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora — ah, lá fora! — rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny (Nobilíssima visão, 1959)

terça-feira, 10 de julho de 2007

Citação (tradução livre a partir do inglês)

Costumávamos gerar civilizações,
agora construímos centros comerciais…


Bill Bryson (Neither here nor there, 1991)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Os meus livros 2

Capa do livro editado pelo Parque Natural da Serra da Estrela (os elementos que constam da capa são todos eles símbolos desta montanha, a saber: os cântaros, a estrela (o sol), e dois endemismos serranos Campanula herminii e Lacerta monticola monticola)


Um aspecto do interior do livro



Em 1985, pouco depois de ter fundado a Naturibérica, Lda., consegui dois trabalhos importantes e que ajudaram a lançar a empresa. Um foi sobre o concelho de Celorico da Beira, para a Câmara Municipal (Estudo Fitogeográfico e Faunístico do Concelho de Celorico da Beira, 1985) e o outro, que me interessa aqui focar em particular, incidiu sobre o Parque Natural da Serra da Estrela (Estudo Fitogeográfico e Faunístico do Parque Natural da Serra da Estrela, 1985). Este último surgiu na sequência da minha boa relação pessoal com o então presidente do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza (SNPRCN) — actualmente transformado em Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) —, o Arqº José Manuel de Vasconcelos, e com o facto de existir uma certa urgência num estudo de âmbito biológico sobre o Parque, para um plano de ordenamento do mesmo, então em elaboração. O estudo em questão foi feito em tempo recorde e o trabalho de campo apenas teve lugar entre Março e Agosto de 1985.
Na altura em que entreguei o estudo, já o presidente do SNPRCN era o Engº Macário Correia. Algum tempo após a entrega do trabalho voltei a marcar encontro com o Engº Macário Correia para saber a sua opinião sobre o estudo e se necessitava de algum esclarecimento adicional. Para meu espanto, o novo presidente começou a dizer mal do estudo, percebendo eu que ele não o tinha sequer lido. Apesar da minha revolta com o sucedido, pois tinha perfeita consciência do trabalho que tinha sido realizado, da sua qualidade e do seu ineditismo, percebi que aquelas críticas se deviam ao facto do trabalho ter sido encomendado pelo anterior presidente, que era de outra cor política. Infelizmente, ao longo da minha vida tenho constatado que este tipo de comportamento tem sido regra no pesado e inquinado aparelho estatal. Num país de parcos recursos, considero um crime que de cada vez que muda o partido no poder, tudo
(ou quase tudo) o que vinha da anterior gestão é para deitar fora, ou seja, vão se repetir estudos, planos e projectos, já feitos e pagos, vezes sem conta, por causa da visão mesquinha e egoísta das direcções partidárias.
Curiosamente, nos corredores do SNPRCN corria à boca pequena que não era possível que o estudo realizado tivesse sido completado num prazo tão curto e envolvido apenas três técnicos. Por outro lado, durante bastante tempo o estudo parece ter desaparecido como por milagre da biblioteca do Serviço de Parques e alguns colegas biólogos, funcionários do SNPRCN, vieram mesmo pedir-me para lhes facultar uma cópia. Foi com surpresa que,
22 anos após a sua execução, constatei que na Guarda existe um exemplar para consulta na sede do Parque.
Na sequência do estudo elaborado em 1985 e da experiência e conhecimentos adquiridos, eu e o meu sócio José Cabral propusemos à direcção do Parque a realização de um pequeno livro que divulgasse a riqueza e singularidade do seu património natural. Foi assim que em 1989 saiu Estrela. Uma Visão Natural/A Natural Approach, uma edição bilingue ainda em venda na loja do ambiente do ICNB.



sexta-feira, 6 de julho de 2007

The Final Cut

there's a kid who had a big hallucination
making love to girls in magazines
he wonders if you're sleeping with your new found faith
could anybody love him
or is it just a crazy dream

and if i show you my dark side
will you still hold me tonight
and if i open my heart to you
and show you my weak side
what would you do
would you sell your story to rolling stone
would you take the children away and leave me alone
and smile in reassurance
as you whisper down the phone
would you send me packing
or would you take me home

Roger Waters/Pink Floyd (The Final Cut, 1983)

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Fotografia 2

Uma libélula da espécie Cordulegaster boltoni captada com uma Panasonic FZ7


Existem basicamente 3 grupos de câmaras digitais de pequeno formato (equivalente ao 35mm). As mais simples, e portanto mais baratas, são relativamente pequenas (compactas) e têm poucas possibilidades de regulação manual, isto é, estão preparadas para "fazer tudo sózinhas" bastando ao utilizador escolher o programa adequado, que a máquina faz o resto. Actualmente estas câmaras, conhecidas em língua inglesa por "point and shoot cameras", já apresentam resoluções da ordem dos 6 ou 7 megapixeis e um zoom óptico que, na maior parte dos casos, surge com aumentos até 6x embora haja casos em que chegam às 8x ou mesmo às 10x. Por outro lado podem realizar pequenos filmes de baixa resolução e as fotografias captadas evidenciam bastante "ruído" devido ao pequeno tamanho dos seus sensores.
Ao contrário, as câmaras reflex digitais (DSLR=Digital Single Lens Reflex), de objectivas intermutáveis, têm maiores sensores e, por isso, a qualidade da imagem é muitíssimo superior. Para dar um exemplo, uma imagem tirada com uma compacta a 80 Asa tem uma qualidade semelhante à de uma imagem captada por uma dslr a 400 Asa. Estas câmaras não fazem filme e, em geral, não evidenciam mecanismos que reduzam a vibração, coisa que algumas compactas e a maioria das máquinas que abordaremos a seguir já possuem. Ao invés, nas dslr costumam ser as lentes que incorporam a tecnologia para mitigar as vibrações.
As chamadas "bridge cameras" fazem de facto a ponte entre as compactas e as reflex digitais. Foram buscar os pontos fortes de ambas mas têm um grande defeito, que é a qualidade da imagem. Devido à pequena dimensão do sensor, à semelhança das compactas, o "ruído" pode constituir um problema sério. Para o minorar devem tirar-se fotografias com Asa baixa e com boa luz. Das vantagens salientem-se a portabilidade, a qualidade das objectivas, os zooms que chegam às 12x e mais, sendo bastante luminosos, a possibilidade de realizar filmes de resolução aceitável, com som (nalguns casos estéreo) e com a capacidade de actuar o zoom enquanto se filma, a resolução que já ultrapassa os 10 Mp, os mecanismos de redução de vibrações, e muitas outras características importantes e de grande utilidade. Pode dizer-se que algumas "bridge cameras" são uma espécie de dslr disfarçadas com o grande senão do "ruído" na imagem.
Para o comum dos mortais, e mesmo para certos amadores avançados, a aquisição desta última categoria de câmara digital é recomendada, até como forma de preparar o caminho para a posterior compra de uma dslr.
Muito mais haveria para dizer mas, por agora, fico-me por aqui.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Voir un ami pleurer

…Bien sûr ces villes épuisées
Par ces enfants de cinquante ans
Notre impuissance à les aider
Et nos amours qui ont mal aux dents
Bien sûr le temps qui va trop vite
Ces métros remplis de noyés
La vérité qui nous évite
Mais mais voir un ami pleurer…

(Jacques Brel. Voir un ami pleurer, 1977)

A minha scooter

A minha Tmax: Yamaha Tmax XP500


Antes da scooter tive uma yamaha trialeira, monocilíndrica: a xtz 660 Ténéré. Eu gostava dela mas era de tal maneira incómoda que a fui utilizando cada vez menos. Em Julho de 2001 resolvi trocá-la pela scooter. Tenho impressão que nunca fiz uma compra tão acertada na vida.
Em primeiro lugar trata-se de uma bicilíndrica de 500cc sem caixa de velocidades ou embraiagem (é só acelerar e travar). Depois é extremamente confortável, maneja-se com grande facilidade e tem uma ciclística de uma verdadeira moto.
Apesar de a indicarem sobretudo para cidade, ou para fazer pequenos percursos pendulares entre o local de residência e o de trabalho, dá muito boa conta de si em estrada onde é muito agradável de conduzir. Já em auto-estrada, a condução torna-se um pouco monótona embora tenha uma velocidade de cruzeiro que ronda os 130-140km/h e atinja os 160km/h. Uma outra surpresa agradável é o consumo: 5,5-5,7l/100km fazendo uma condução moderada e sem pendura.
Em França e em Itália há uma verdadeira tmax-mania, existindo competições apenas entre scooters tmax.
Fala-se que em 2008 poderá saír um modelo de maior cilindrada. A ver vamos!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Coprofagia em elefante-africano (Loxodonta africana)


Esta imagem foi captada a 23/12/2006 no jardim zoológico de Lisboa. Ilustra um indivíduo a retirar fezes com a sua tromba directamente do intestino de outro indivíduo, o qual não pareceu nada incomodado com este comportamento anómalo.
Após uma pesquisa mais ou menos aturada na net cheguei à conclusão que são escassas as referências à coprofagia em elefantes e nenhuma delas menciona um comportamento semelhante ao que foi por mim testemunhado.
Fica o registo, que poderá revestir-se de algum interesse científico.

Um pouco de humor 1

Do not walk behind me for I may not lead. Do not walk ahead of me for I may not follow. Do not walk beside me either; just leave me the hell alone.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Apenas uma citação

Há mais fé e há mais verdade,
Há mais Deus com certeza
Nos cardos secos dum rochedo nu
Que nessa bíblia antiga…Ó Natureza,
A única bíblia verdadeira és tu!

(Guerra Junqueiro. O Melro, A Velhice do Padre Eterno, 1885)

Os meus livros 1

Capa do livro editado pela C.M. de Mértola em 1985


Uma ilustração do mesmo livro com a seguinte legenda: A azinheira, um ecossistema em miniatura (ilustração da autoria de Maria do Rosário D. Pinto Bessa)


Em 1984, juntamente com um colega de faculdade (Luís Gomes) e um amigo de infância (José Cabral), que reuni para o efeito, fundei aquela que provavelmente foi a primeira empresa de estudos de ambiente em Portugal criada por biólogos. A esta empresa chamei Naturibérica - Estudos e Divulgação em Biologia, Lda. Na altura, um dos vereadores da Câmara Municipal de Mértola era meu primo direito. Em conversa informal com ele foi-me comunicado que poderia haver interesse camarário num estudo que identificasse e caracterizasse a fauna e flora do concelho.
Começou assim a nossa actividade em Mértola, que se prolongou por cerca de 3 anos ao longo dos quais produzimos o referido estudo (Estudo Fitogeográfico e Faunístico do Concelho de Mértola, 1984), o livro que aqui se apresenta, um videograma (Mértola: Aspectos Naturais do Concelho, 1986) e os trabalhos preparatórios para aquilo que viria a ser o Parque Natural do Vale do Guadiana (Anteplano para o Aproveitamento Racional do Património Natural do Vale do Guadiana/concelho de Mértola, 1987; Estudo Prévio do Vale do Guadiana (concelho de Mértola) para a Delimitação de Áreas numa Perspectiva Conservacionista, 1987).
Este livro constituiu uma verdadeira pedrada no charco no então panorama nacional da divulgação e conservação da natureza. Foi também fonte de inspiração para uma nova geração de biólogos que perceberam que o seu país tinha grande valor natural e que urgia preservá-lo. Por outro lado também os incentivou a escolher outra via profissional, que não a via pedagógica.
A nós, os autores, que não ganhámos um tostão por termos realizado o livro, ficou-nos o orgulho e a satisfação do pioneirismo e de vermos que esta publicação teve consequências práticas de grande valia. A mim ficou-me ainda um enorme apego ao concelho de Mértola, ao qual mais tarde haveria de voltar assumindo outras funções.

domingo, 1 de julho de 2007

It's a Miracle

Miraculous you call it babe
You ain't seen nothing yet
They've got Pepsi in the Andes
Mcdonalds in Tibet
Yosemite's been turned into
A golf course for the Japs
The Dead Sea is alive with rap
Between the Tigris and Euphrates
There's a leisure centre now
They've got all kinds of sports
They've got Bermuda shorts
They had sex in Pennsylvania
A Brazilian grew a tree
A doctor in Manhattan
Saved a dying man for free
It's a miracle …

(Roger Waters. Amused to Death, 1992)

Fotografia 1

Alfama vista a partir da Cerca Moura (Lisboa)


Li algures que hoje em dia todos somos fotógrafos. Em certo sentido é bem verdade. A fotografia digital banalizou-se de tal maneira, que fotografar é hoje tão frequente como telefonar. Tornou-se um veículo comunicacional de eleição para miúdos e graúdos. A imagem digital apoiada nas novas tecnologias de informação e comunicação é uma ferramenta útil e potente.
É hoje possível fotografar, ver o resultado de imediato, alterá-lo ou descartar a imagem e voltar a captar outra(s). É também relativamente fácil imprimir uma fotografia, enviá-la a outrém através do correio electrónico ou colocá-la na web. Tudo isto é verdade mas a arte fotográfica em si tem regras, requer aprendizagem. Contudo aprende-se muito mais depressa quando podemos analisar (ou apresentar para análise) um conjunto apreciável e diversificado de imagens no local onde as captamos, de imediato, não deixando "a coisa esfriar".
Eu venho do mundo da fotografia analógica e tenho de admitir que desde que adquiri uma câmara digital, nunca mais toquei nos meus corpos nikon analógicos e tenho filmes a passar do prazo.

(para uma amostra diversificada da minha produção fotográfica ir aqui)