Livros no Blurb

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Animais, plantas e paisagens de Portugal 3

Esteva (Cistus ladanifer)



Esteval na serra do Caldeirão (concelho de Tavira)


A esteva é um arbusto aromático, sempre-verde, que pode atingir mais de dois metros de altura. Reconhece-se com facilidade graças às suas folhas opostas, lanceoladas, compridas e pegajosas, de um verde brilhante e às suas enormes flores (7 a 10 cm de diâmetro), dispostas isoladamente no cimo dos caules. As pétalas são brancas e, na maioria dos casos, evidenciam na sua base uma "unha" púrpura.
Ocorre fundamentalmente sob a forma de extensos agrupamentos mono-específicos — os estevais — em zonas de solos muito depauperados. Faz também parte de formações arbustivas mais evoluídas ou do sub-bosque de montados e pinhais. Prefere locais expostos e secos.
Floresce de Fevereiro a Maio e distribui-se pela Península Ibérica, Sul de França, Noroeste africano e ilhas Canárias.
Encontra-mo-la em praticamente todo o continente português embora seja rara junto ao litoral, para norte de Aveiro.
Poderá confundir-se com a Cistus palhinhae, uma esteva endémica do território nacional que se encontra sobretudo em parte do litoral alentejano, na costa ocidental algarvia e em parte da costa meridional do barlavento. Alguns autores consideram a Cistus palhinhae como uma forma amoitada de Cistus ladanifer, particularmente adaptada a ambientes de influência marinha (ecótipo).


Powered by ScribeFire.

domingo, 28 de outubro de 2007

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.




Fernando Pessoa (1932)


Powered by ScribeFire.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Les bourgeois

Le coeur bien au chaud
Les yeux dans la bière
Chez la grosse Adrienne de Montalant
Avec l'ami Jojo
Et avec l'ami Pierre
On allait boire nos vingt ans
Jojo se prenait pour Voltaire
Et Pierre pour Casanova
Et moi moi qui étais le plus fier
Moi moi je me prenais pour moi
Et quand vers minuit passaient les notaires
Qui sortaient de l'hôtel des "Trois Faisans"
On leur montrait notre cul et nos bonnes manières
En leur chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête
Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient...

Le coeur bien au chaud
Les yeux dans la bière
Chez la grosse Adrienne de Montalant
Avec l'ami Jojo
Et avec l'ami Pierre
On allait brûler nos vingt ans
Voltaire dansait comme un vicaire
Et Casanova n'osait pas
Et moi moi qui restait le plus fier
Moi j'étais presque aussi saoul que moi
Et quand vers minuit passaient les notaires
Qui sortaient de l'hôtel des "Trois Faisans"
On leur montrait notre cul et nos bonnes manières
En leur chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête
Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient...

Le coeur au repos
Les yeux bien sur terre
Au bar de l'hôtel des "Trois Faisans"
Avec maître Jojo
Et avec maître Pierre
Entre notaires on passe le temps
Jojo parle de Voltaire
Et Pierre de Casanova
Et moi moi qui suis resté le plus fier
Moi moi je parle encore de moi
Et c'est en sortant vers minuit Monsieur le Commissaire
Que tous les soirs de chez la Montalant
De jeunes "peigne-culs" nous montrent leur derrière
En nous chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux et plus ça devient bête
Disent-ils Monsieur le commissaire
Les bourgeois
Plus ça devient vieux et plus ça devient...


Jacques Brel (1961)


Powered by ScribeFire.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Os meus livros 10

Capa do volume "Região Algarve" (Círculo de Leitores, 1992)


Capa do volume "Região Algarve" (Temas & Debates, 1997)


Um aspecto do interior do quarto volume



O Algarve é porventura a única região de Portugal Continental com identidade geográfica. Trata-se de um território verdadeiramente mediterrânico cujas ligações viárias e ferroviárias ao resto do país apenas foram estabelecidas a partir de finais do século XIX, ou mesmo princípios do século XX. O seu isolamento apenas era quebrado por via das ligações marítimas e foi através delas que diferentes civilizações aqui deixaram as suas marcas (os mouros, por exemplo, ocuparam esta província durante cerca de 550 anos).
Existem três regiões naturais perfeitamente demarcadas, estendendo-se desde o Atlântico até ao Guadiana, que se sucedem de Norte para Sul em faixas mais ou menos paralelas, a saber: a Serra, o Barrocal e o Litoral (Barrocal e Litoral fazem parte do chamado Baixo Algarve). Todas têm características agro-florestais, geoclimáticas, ecológicas e de povoamento muito próprias.
A Serra constitui uma zona de transição do Alentejo para o Baixo Algarve, protegendo este dos ventos do quadrante Norte. De poente para nascente erguem-se o Espinhaço de Cão, Monchique e o Caldeirão. É uma zona xistosa, à excepção do maciço eruptivo de Monchique que, com os seus cerca de 900 metros de altitude, denota já claras influências atlânticas bem evidentes na sua paisagem e coberto vegetal. A sua situação é grosso modo similar às das serras de Sintra e da Boa Viagem, embora esta última seja de natureza geológica diversa.
O Barrocal é um mundo árido, calcário, com solos de terra rossa recobertos pelos pomares de sequeiro (oliveiras, amendoeiras e alfarrobeiras), tão típicos do Algarve, e por uma vegetação mais ou menos baixa, esclerófila, de aromas múltiplos, onde dominam o carrasco (Quercus coccifera), tomilhos, rosmaninhos, tojos e estevas. Trata-se de uma formação vegetal conhecida como garrigue.
O Litoral está actualmente muito devassado devido à insensata, diria mesmo criminosa, intervenção humana levada a cabo nos últimos 50 a 60 anos. Terra de pescadores e mariscadores mas também de agricultores, com as suas hortas, os pomares de citrinos e os seus belos e produtivos sistemas lagunares, esta zona já foi um autêntico paraíso embora hoje pouco reste da paisagem natural.

São estes e outros temas que são tratados, em maior ou menor profundidade, neste volume.



Powered by ScribeFire.

sábado, 20 de outubro de 2007

Indian sunset

As I awoke this evening with the smell of wood smoke clinging
Like a gentle cobweb hanging upon a painted teepee
Oh I went to see my chieftain with my warlance and my woman
For he told us that the yellow moon would very soon be leaving
This I can't believe I said, I can't believe our warlord's dead
Oh he would not leave the chosen ones to the buzzards and the soldiers guns

Oh great father of the iroquois ever since I was young
I've read the writing of the smoke and breast fed on the sound of drums
I've learned to hurl the tomahawk and ride a painted pony wild
To run the gauntlet of the sioux, to make a chieftain's daughter mine


And now you ask that I should watch
The red man's race be slowly crushed
What kind of words are these to hear
From Yellow Dog whom white man fears


I take only what is mine Lord, my pony, my squaw, and my child
I can't stay to see you die along with my tribe's pride
I go to search for the Yellow Moon and the fathers of our sons
Where the red sun sinks in the hills of gold and the healing waters run


Trampling down the prairie rose leaving hoof tracks in the sand
Those who wish to follow me I welcome with my hands
I heard from passing renegades Geronimo was dead
He'd been laying down his weapons when they filled him full of lead


Now there seems no reason why I should carry on
In this land that once was my land I can't find a home
It's lonely and it's quiet and the horse soldiers are coming
And I think it's time I strung my bow and ceased my senseless running
For soon I'll find the Yellow Moon along with my loved ones
Where the buffalos graze in clover fields without the sound of guns


And the red sun sinks at last into the hills of gold
And peace to this young warrior comes with a bullet hole


Elton John (música) e Bernie Taupin (letra) [Madman across the water, 1971)


Powered by ScribeFire.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

L'invitation au voyage

Mon enfant, ma soeur,
Songe à la douceur
D'aller là-bas vivre ensemble!
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble!
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.

Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
A l'âme en secret
Sa douce langue natale.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.

Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.



Charles Baudelaire (Les Fleurs du mal, 1857)


Powered by ScribeFire.

domingo, 14 de outubro de 2007

Animais, plantas e paisagens de Portugal 2


Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo)



A águia-de-asa-redonda, também conhecida como manta na Madeira e milhafre ou queimado nos Açores, é a ave de rapina diurna mais abundante da nossa fauna, facto este que está ligado à sua plasticidade adaptativa e também à facilidade com que ocupa zonas bastante humanizadas. Trata-se de uma espécie de médio porte que pode ser encarada, ainda que abusivamente, como uma réplica muito mais pequena da águia-real. Como esta voa em círculos com as asas em V. Atinge 57cm de comprimento e 1,28m de envergadura. A coloração da plumagem é muito variável. O tipo mais comum apresenta um tom castanho-escuro predominante com manchas claras na base das rémiges primárias e um desenho igualmente claro, em forma de U, no peito. Os adultos têm uma barra larga e escura na parte terminal da asa e da cauda. Encontra-se de Norte a Sul de Portugal ocupando uma imensa variedade de ambientes. Nidifica em árvores, mais raramente em escarpa, pondo 3 ou 4 ovos. Tem uma dieta alimentar ecléctica, que compreende desde insectos e pequenos vertebrados até grandes roedores, coelhos e lebres. Consome igualmente carniça.
É uma espécie residente, isto é, permanece no nosso país durante todo o ano. Existe uma população, cuja expressão é desconhecida, que nos visita apenas de Inverno e que provém do Norte da Europa (i.e. Suécia e Finlândia).


Powered by ScribeFire.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

India

In her old-young eyes
There is no joy, no light, no hope.
Silent, small hands clasped,
Beside the simple mound she kneels.
Down from those eyes,
Dark pools of light and alternating shade,
Descends the bitter shower,
The life-blood from her over-charged heart.
So young…
Yet in those luminous lakes
The wisdom of her people burns —
Wisdom that always was.
So young…
She kneels beside the simple mound.
Around her and above
The rainless shimmer
Scorches the parched earth.
Thin shoulders tremble,
Her small, wise heart beats against
Her thin breast;
Bitter-sweet, from laden eyes,
Heavy with her people's sorrow,
Descends the bitter stream.
Camera on shoulder
The opulence of the West, unmoved, untouched looks on.
Around him and above
Heat heavy
Heat killing
Parched earth.
No stir, all life has long since passed
And left no trace
Save bleached bones
And emptiness
And mounds of lifeless earth
Watered by tears.
Camera to shaded eye.
A moment only,
Then thick tyres stir up the heavy lifeless earth.
All is silence…
No bird sings, nor low of cow is heard.
Thin, wise eyed,
Kneeling beside the mound of desolate earth,
So young…
The strangled sobs, torn from her thin breast,
Alone break the silence
Of Death.



October dee



Powered by ScribeFire.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Arvéolas

Alvéola-branca (Motacilla alba)


Pelas terras lavradias
Vão saltando, debicando
As arvéolas luzidias.

E é mesmo uma graça quando,
Tocadas de um raio de sol,
Se erguem dos regos arfando,
Pedindo ao sol que as console…

Alegres, vibráteis, elas
Têm nas pontiagudas asas
Um corte airoso de velas.

E pelas campinas rasas,
Passinho leve, olho esperto,
Como a andar num chão de brasas,
Às horas da lavra é certo.

Vê-las dos sulcos rasgados
Voar e poisar depois,
Ou na espinha dos arados,

Ou nos chavelhos dos bois,
Que impassíveis nem dão tento,
A caminhar dois a dois
Num passo pesado e lento.

Que destino tão diverso
Vêm cumprindo as criaturas
Esparsas pelo Universo:

Sofrem os bois as mais duras
Canseiras todos os dias,
Entre as joviais travessuras
Das arvéolas reinadias.

No entanto eu gosto de vê-las
Quando o sol as várzeas doira,
Dando alegria às courelas,

Palpitações à lavoira
E enchendo de asa e trilos,
Os largos campos tranquilos.



Conde de Monsaraz (Lira de Outono, 1954)





Powered by ScribeFire.

sábado, 6 de outubro de 2007

Os meus livros 9

Capa do volume "Região Alentejo" (Círculo de Leitores, 1992)


Capa do volume "Região Alentejo" (Temas & Debates, 1996)


Um aspecto do interior do terceiro volume



Este foi o terceiro volume da colecção Roteiros da Natureza a ser publicado.

Nestes livros incluí muita informação inédita, que coligi através dos estudos de índole técnica que ia realizando um pouco por todo o país pela Naturibérica, Lda. — empresa de que fui sócio-fundador —, ou que resultou de investigações pessoais. Destas últimas destaca-se, por exemplo, a descoberta de uma pequena população reprodutora viável de abibe (Vanellus vanellus) em pleno Alentejo, uma ave comum como invernante em Portugal.
Orgulho-me pelo facto do volume sobre os Açores ter sido utilizado num doutoramento sobre a vegetação natural deste arquipélago e do mesmo livro constar da bibliografia do recente Atlas de Portugal, coordenado pela Dra. Raquel Soeiro de Brito, uma prestigiada geógrafa.
Esta colecção foi igualmente precursora de variadíssimos roteiros que posteriormente vieram a ser editados por inúmeras pessoas e instituições, que neles se inspiraram e de onde retiraram diversa informação.
Apesar de tudo o que anteriormente se disse, esta colecção nunca mereceu dos meus pares a mais pequena referência embora soubesse que à boca pequena se iam tecendo vários comentários. Creio que é o preço a pagar por quem se mantém um "não alinhado", por quem teima em não querer ser apenas mais um carneiro sujeito aos "esquemas" da comunidade.


Powered by ScribeFire.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O melro

Melro (Turdus merula)



O melro, eu conheci-o:
Era negro, vibrante, luzidio,
Madrugador, jovial;
Logo de manhã cedo
Começava a soltar, dentre o arvoredo,
Verdadeiras risadas de cristal.
E assim que o padre cura abria a porta
Que dá para o passal,
Repicando umas finas ironias,
O melro, dentre a horta,
Dizia-lhe: "Bons dias!"
E o velho padre cura
Não gostava daquelas cortesias.



Guerra Junqueiro (A Velhice do Padre Eterno, 1885)



Powered by ScribeFire.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Quinta das Canadas 8

Folhas de carvalho-negral (Quercus pyrenaica)



Duas perspectivas diferentes da ribeira das Canadas


A quinta é atravessada por uma ribeira principal — a ribeira das Canadas —, à qual se juntam alguns pequenos riachos. Esta é a sua principal zona húmida, encontrando-se ladeada por uma cortina continua de vegetação que inclui salgueiros (Salix sp.), freixos-de-folha-estreita (Fraxinus angustifolia), carvalhos-negral (Quercus pyrenaica), pilriteiros (Crataegus monogyna), madressilvas (Lonicera periclymenum) e até diversas nogueiras (Juglans regia). Também se pode observar o azereiro (Prunus lusitanica), uma pequena árvore selvagem aparentada com a ameixoeira, que é rara em Portugal. Apesar de constituir um habitat linear, a ribeira suporta uma quantidade e diversidade de formas de vida espantosas. Inúmeros invertebrados constituem a dieta alimentar de anfíbios e répteis bem como de pequenas aves insectívoras. A rã-ibérica (Rana iberica) e o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) são endemismos do noroeste e ocidente peninsulares que aqui vivem.
Para além das linhas de água existem nascentes e diversos tanques que também fazem parte das zonas ribeirinhas. Embora praticamente destituídos de vegetação lenhosa, estas estruturas são importantes sobretudo para os anfíbios (i.e. rãs, sapos, tritões e salamandras). Aves e mamíferos utilizam-nas para beber e a cobra-de-água-viperina (Natrix maura) é o réptil mais característico.


Powered by ScribeFire.