Livros no Blurb

sábado, 27 de dezembro de 2008

[Douro]

Ora um dia sucedeu que dois gigantes, um vindo de Trás-os-Montes e o outro da Beira Alta, mais gigantes na alma que no corpo, galgaram as serras, desceram as encostas e, depois de olhar os fundões do rio e provar o néctar dos frutos bravos, entenderam que aquela terra e aquele rio eram, pela sua áspera grandeza, dignos da labuta de gigantes. E resolveram meter o picão às fragas; reduzi-las a terrunha; amparar os seus "veios" estreitos com "socalcos" de pedra solta; e plantar sobre as escarpas, que eram sarças de fogo, os primeiros bacelos de videira.
Quando, mais tarde, voltaram, viram com surpresa que as vides carregavam e as uvas ressumavam um licor capitoso, que lhes dava leveza aos passos e alegria às almas.
Outros e mais outros, todos gigantes, vieram trazidos pela fama e, arquejando, dobrados sobre o chão, praguejando e gemendo, lacerando as mãos e os membros contra as lascas das ardósias, banhando a terra em suor e sangue, arrancaram do xisto novos "veios" que ampararam com novos "socalcos": e o que fora a montanha deserta, tornou-se em jardim suspenso.

Jaime Cortesão (Portugal — A Terra e o Homem)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Os meus livros 25

Capa do Livro Uma Viagem pelo Património Natural das Aldeias Históricas do Interior Beirão (Inatel, 2002)


Algumas páginas do interior do livro

Contracapa


Esta publicação coligiu praticamente todo o material escrito e fotográfico que produzi, no âmbito do projecto "Carta do Lazer das Aldeias Históricas", para cada um dos oito livros sobre as aldeias históricas de Linhares, Marialva, Castelo Rodrigo, Almeida e Castelo Mendo, Sortelha, Idanha-a-Velha e Monsanto, Castelo Novo e Piódão. Como tal, a área geográfica retratada abrange 23 concelhos do interior beirão (entre Douro e Tejo) e caracteriza e descreve o património natural deste vasto território bem como as suas particularidades geo-climáticas.
O livro encontra-se hoje provavelmente esgotado, tendo sido vendido quer pelo Inatel quer pela Fnac.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Laranja

Não precisas de mais. Tens tudo em ti:
perfume, cor, semente, gravidade.
Um sol te beija o rosto, no jardim,
e tombas quando tomba o fim da tarde.


António Luís Moita (Sal)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 17




Guarda-rios (Alcedo atthis)


Trata-se de uma espécie inconfundível. A sua plumagem é, na face dorsal, de tonalidades azuladas com reflexos metálicos que contrastam com o alaranjado da face ventral. O corpo é bojudo, de forma oval, do qual mal se destaca a cabeça donde parte um bico grosso e robusto. Existe em todo o país embora se encontre em menor abundância no interior das regiões centro e norte. Ocupa uma grande variedade de ambientes aquáticos tanto dulçaquícolas como salobros, ou até mesmo marinhos (orlas costeiras, principalmente no Inverno). Nidifica em taludes de terra ou arenosos nos quais escava um orifício comprido que se termina por uma câmara onde deposita de cinco a sete ovos de cor branca. Apesar de também consumir insectos e anfíbios alimenta-se essencialmente de peixe.
Existe na Europa, na Ásia Central e Meridional, no Japão e no Noroeste Africano. De Inverno também ocorre no Nordeste Africano, na Arábia e na Indonésia.
Em Portugal é uma espécie residente relativamente comum embora localizada devido ao tipo de ambientes que frequenta. Na estação fria, o nosso país acolhe uma pequena a moderada população migradora.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Aesthetics

. . . although to the non-scientist the aesthetic of biology would mean simply the beauties of nature, to the biologist it means much more. For example, the surface beauty of a leaf is nothing compared to the beauty of its cellular structure and of the process of photosynthesis. Learning about these things just increases appreciation. This is contrary to the idea held by many non-scientists that analysis destroys beauty. This latter view is based on a lack of understanding and knowledge of the processes of science. This is why many of the biologist’s beauties are not appreciated by most non-scientists.

Maura Flannery (Perspectives in Biology and Medicine, 1992)


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Cleaning Windows

Oh, the smell of the bakery from across the street
Got in my nose
As we carried our ladders down the street
With the wrought-iron gate rows
I went home and listened to jimmie rodgers in my lunch-break
Bought five woodbines at the shop on the corner
And went straight back to work.

Oh, sam was up on top
And i was on the bottom with the v
We went for lemonade and paris buns
At the shop and broke for tea
I collected from the lady
And i cleaned the fanlight inside-out
I was blowing saxophone on the weekend
In that down joint.

What's my line?
I'm happy cleaning windows
Take my time
I'll see you when my love grows
Baby don't let it slide
I'm a working man in my prime
Cleaning windows (number a hundred and thirty-six)

I heard leadbelly and blind lemon
On the street where i was born
Sonny terry, brownie mcghee,
Muddy waters singin i'm a rolling stone;
I went home and read my christmas humphreys' book on zen
Curiosity killed the cat
Kerouac's Dharma bums and on the road;

What's my line?
I'm happy cleaning windows
Take my time
I'll see you when my love grows
Baby don't let it slide
I'm a working man in my prime
Cleaning windows...


Van Morrison

domingo, 23 de novembro de 2008

[Melão]

Ali mesmo de fronte, um estendal de melões desafiava-lhe os desejos. Crescia-lhe água na boca. Havia um amarelo, raiado de verde, que levava a palma aos outros todos. Devia ser como mel — doirado e doce a desfazer-se nos dentes. Sumarento, como uma laranja, para lhe matar a sede.

*

Era um monte deles, mas só aquele a desafiava. Sentia a polpa das talhadas nos lábios secos e gretados, a ressumar pingos doces que nem uvas moscatéis.

Alves Redol (Avieiros)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Os meus livros 24

Capa do Roteiro Natural do concelho de Loures (Câmara Municipal de Loures, 2001)


Um aspecto do interior do Roteiro


Apesar da má imagem que por vezes habita o nosso imaginário acerca deste concelho, o município de Loures ainda mantém muitas das características do verdadeiro campo mesmo às portas de Lisboa. Aqui, muitos dos hábitos e ritmos da vida rural permanecem vivos e algumas das suas paisagens recordam as Ilhas Britânicas. Como tal, animais e plantas associados ao trabalho da terra, à presença de gado em pastagens, a pequenos bosquetes e a sebes vivas dominam as comunidades biológicas.

sábado, 15 de novembro de 2008

Natureza-morta com frutos

1.

O sangue matinal das framboesas
escolhe a brancura do linho para amar.

2.

A manhã cheia de brilhos e doçura
debruça o rosto puro na maçã.

3.

Na laranja o sol e a lua
dormem de mãos dadas.

4.

Cada bago de uva sabe de cor
o nome dos dias todos do verão.

5.

Nas romãs eu amo
o repouso no coração do lume.



Eugénio de Andrade (Ostinato Rigore)

domingo, 9 de novembro de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 16

Castelo de Linhares da Beira


Linhares da Beira, no concelho de Celorico da Beira, é uma das Aldeias Históricas de Portugal. Com o seu imponente castelo, a simpatia da sua gente e a sua posição dominante, debruçada sobre a bacia de Celorico, esta mimosa aldeia beirã detém um património considerável e merece uma aturada visita.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

[Laranjal]

Nos seus longos passeios solitários pelo pomar e pelas terras, Margarida cortava às vezes uma folha de inhameiro, e, afunilando-a na mão, chegando-a a uma bica de rega, bebia grandes goladas daquele líquido macio e pesado, que ficava no veludo da folha com o aspecto de prata ou de mercúrio. As laranjas já estavam grossas e douradas nas árvores. Algum botãozinho de uma floração temporã alternava com os ramos vergados ao peso dos frutos que um sol de pouca dura ia adoçando e adelgaçando. Margarida rondava as laranjeiras quase pé ante pé, pesquisando aquela frutificação bela e ardente na manhã que subia emborralhada, contando as laranjas milagrosamente acamadas numa pernada só, tirando-lhes uma ou outra cochonilha com a ponta da unha, — enfim, como que lendo, criticando as páginas daquele laranjal da Urzelina, autêntica biblioteca sem leitores.
Às vezes, algum tentilhão ou vinagreira esvoaçava entre as folhas; um botão de flor de laranjeira, rijo e encerado, ficava a tremer da fuga da ave assustadiça.

Vitorino Nemésio (Mau Tempo no Canal)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Blackbird

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise.

Blackbird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life
You were only waiting for this moment to be free.

Blackbird fly blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird fly blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise.


The Beatles


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Concelho da Guarda em imagens 4

A caldoneira (Echinospartum ibericum) é um arbusto da família das giestas que se observa em ambientes expostos e sujeitos a ventanias frequentes.


Encosta florida coberta pela giesta-negral (Cytisus striatus)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

[A bacia da Régua]

Rio Douro (Régua)


Por cima das cepas derrubadas com o peso das uvas vicejam as árvores do pomar carregadas de fruto: as laranjeiras, os pessegueiros, os damasqueiros, as figueiras, as pereiras, as cerejeiras e as ginjeiras.
Contra os muros esverdeados de musgo bracejam os limoeiros doces e azedos.
As sebes dos campos são feitas de marmeleiros entrelaçados.
Nos debruns das leiras e no sopé dos muros, por entre as hastes de hera e as moitas de fetos, de violetas e de dedaleiras em flor, rebentam os morangos e as groselhas.

Ramalho Ortigão (As Farpas I)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Os meus livros 23

Capa do Roteiro Natural do concelho de Montijo (Câmara Municipal de Montijo, 2001)


Este concelho, ao contrário do que muita gente possa supor, não se limita ao pequeno território da margem sul do Tejo, junto a Alcochete. Existe uma outra porção territorial, de maiores dimensões, separada da anterior, que abrange como principais núcleos populacionais Canha e Pegões. É nesta zona que será construído o futuro aeroporto internacional de Lisboa.

domingo, 12 de outubro de 2008

Proposição das rimas do poeta

Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores:

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores:

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.

Manuel Maria Barbosa du Bocage

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 15

Morrião-perene (Anagallis monelli)


O morrião-perene (Anagallis monelli) pertence à família das primuláceas. Como o seu nome comum indica trata-se de uma erva vivaz, isto é, cuja parte subterrânea se mantém durante vários anos enquanto a parte aérea se renova de ano para ano. Os indivíduos apresentam-se prostrados, ascendentes ou erectos e mais ou menos lenhosos na base. É de pequena dimensão e as folhas são opostas, não pecioladas, ovado-lanceoladas a elípticas. As flores são relativamente pequenas, de um azul forte, com a parte central de cor púrpura.
O morrião-perene surge em ambientes abertos e secos, por exemplo em orlas ou taludes, sobre a duna secundária ou estabilizada e amiúde sobre solos calcários. Existe no Centro e Sul de Portugal, em particular na sua metade litoral.
Floresce entre Março e Junho.
É uma planta própria do ocidente mediterrânico que podemos observar na Península Ibérica, na Sicília e no Norte de África.

sábado, 4 de outubro de 2008

Corticeiros

No silêncio ardente do dia parado,
Há lida de gente no denso montado.

Há troncos despidos, já lívidos, frios,
E troncos que esperam, em funda ansiedade,
Com gestos convulsos, de sonhos sombrios,
Em dor e silêncio, por toda a herdade.

Os pés descalços trepam ágeis,
Sobem…
O machadinho crava-se e segura,
Como se fora um croque de abordagem,
O homem
A subir, na faina dura.
E lembra-me, assim vistos a distância,
— Os vultos a trepar pelos troncos gigantes —
Como, em contos de infância,
Cornacas dominavam enormes elefantes.

— Que os troncos majestosos e inermes
Têm o ar daqueles paquidermes,
Lentos, laboriosos, resignados. —

Desses trágicos braços contorcidos,
Que mais tarde, a sangrar,
São a gala maior desta paisagem,
E, agora, estão gelados, confrangidos
Pela tortura sem par,
No pino da estiagem,
Vão homens rudes, escuros e suados,
Lenço metido sob o chapéu largo,
Arrancando aos bocados,
Em férrea luta obscura,
Com qualquer coisa de febril e amargo,
A epiderme dura.

— Oh, velhas árvores dos montados!

E há pasmo na canícula.
E há silêncio, de assombro, na paisagem!

— Troncos dilacerados…


Francisco Bugalho (Paisagem)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

[O sobreiro]


O montado de sobro, na sua soturnidade, é uma das belezas rudes e severas da terra. Sobrevivência da floresta primitiva, fonte apetecida e explorada de riqueza, mau grado as pragas e o desbaratamento económico que tem sofrido, esta árvore mantém em muito a sua robustez bravia e acaso daí a particular sedução que desperta.


Manuel Mendes (Roteiro Sentimental — A Sul do Tejo)

domingo, 21 de setembro de 2008

Concelho da Guarda em imagens 3

Um soito (povoamento de castanheiros para produção de castanha) no Outono


No ponto mais alto do concelho — Cabeça Alta (1.287 metros). Ao fundo destaca-se a serra da Santinha (± 1.500 metros), sobranceira a Folgosinho, já no concelho de Gouveia


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sobreiros

Põe-se o Sol atrás do Monte,
Vermelha tarde outonal…

Há transparências no ar,
Laivos purpúreos,
Doirados,
Roxos,
Ocres,
Amarelados,
Todos os tons violentos
Que se possa imaginar…

(Os borregos já nascidos
Soltam, ao longe, balidos,
Regressa o gado ao curral.)

Da terra recém-rasgada,
Húmida, fresca, fendida,
P'lo arado violada,
Onde abriram os alqueives
Em leivas férteis, fecundas,
Surgem gigantes torcidos!…
Seus troncos são paus batidos,
Pelo suão já tisnados,
Exangues uns, outros sangrentos,
Testemunhos de tormentos,
De tanto viver já cansados…

Cantar-vos, quanto desejo!

Assim eu tivesse ensejo
E me fosse dado o jeito
Para libertar do peito
Todo o amor que vos tenho:

Sobreiros do meu Alentejo!



João Filipe Bugalho (Inédito, 1985)

sábado, 13 de setembro de 2008

Os meus livros 22

Capa de "GR22. Grande rota das aldeias históricas" (Inatel, 2000)


Este foi mais um dos livros editados ao abrigo do projecto da "Carta do Lazer das Aldeias Históricas". É dedicado à grande rota europeia 22 que liga as 10 aldeias históricas num percurso de btt de cerca de 540 quilómetros, o qual atravessa 17 concelhos do interior beirão e 3 áreas protegidas, a saber: Parque Natural da Serra da Estrela, Parque Natural do Douro Internacional e Reserva Natural da Serra da Malcata.
Embora a sua autoria seja da Teresa Bento, um dos elementos da equipa técnica criada expressamente para a realização deste projecto, os textos sobre o património natural (descrições ao longo dos percursos) e as fotografias de fauna e flora são de minha autoria.

sábado, 16 de agosto de 2008

[A azinheira]

De folhagem rija, com recorte picante, tinge-se de um verde baço, soturno, sendo o fruto de tamanho variável, a maioria das vezes aguçado. Nas azinheiras a que chamam boleta doce, a lande cria-se maior, de polpa mais rica e apetecida que a do sobreiro, apreciando-a o rural alentejano, que a come crua ou assada, como noutros lugares se come a castanha.

*

Dada a rijeza da madeira, densa, inquebrável, além de a aproveitarem para lenha e carvão, empregam-na ainda hoje no fabrico de certas alfaias agrícolas […].

*

Vive parasitariamente nas raízes da azinheira, como de alguns carvalhos, a saborosa túbara, tão apreciada pelos gastrónomos, e da qual são gulosos o porco de vara e o cerdo bravo, que na terra fossam quando delas lhes vem o cheiro. É a trufa que o francês tem artes para cultivar, e dá uma sopa divinal, certos recheios e guarnecimentos, como o famoso peru trufado, que é manjar principesco.


Manuel Mendes (Roteiro Sentimental — A Sul do Tejo)


terça-feira, 12 de agosto de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 14


Laverca (Alauda arvensis)



A Laverca é uma cotovia típica, de tons acastanhados, com diferentes riscas e manchas que lhe conferem um elevado mimetismo. A face ventral é clara e o peito listrado de castanho. Tem um canto variado, audível a grande distância, que entoa no ar por vezes a alturas apreciáveis. Evidencia, ao levantar ou pousar, uma faixa branca de ambos os lados da cauda e no bordo posterior das asas. Em Portugal ocupa zonas abertas (i.e. prados/lameiros, pousios-pastagem, alqueives e restolhos, arrozais e searas de sequeiro) tanto de Inverno como na época da reprodução.
Reproduz-se sobretudo a norte do Tejo, quer no litoral quer no cume das serras ou em planaltos elevados (e.g. planalto beirão). A sul nidifica em parte da área costeira e na serra de Monchique. Constrói o ninho no solo e põe de três a cinco ovos. Alimenta-se de insectos e matéria vegetal (incluindo sementes). Existe na Europa, na Ásia Central e no Japão.
De Inverno forma grandes bandos e é mais abundante no Alentejo. Existe uma população invernante considerável no nosso país quantitativamente igual ou mesmo superior à população reprodutora. Na serra da Estrela, onde cria, pode ser observada logo a partir de Março mesmo com o solo coberto de neve. Não se sabe qual o destino da população reprodutora após a nidificação, em especial a que provém das serras do centro e norte.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

[O monte]

O montado que dá a cortiça e a lande de engorda, os campos de semeadura e a charneca, para as terras alagadiças o arrozal, em muitos casos o lagar de azeite e nalguns a adega daquele vinho áspero, a criação do gado com o seu pastoreio, desde a vara dos porcos ao rebanho das ovelhas, as grandes matanças e o fabrico da queijaria, a manutenção da arribana dos bois e a cavalariça, em suma, quanto pessoal assalariado e adventício conflui ali de norma — o que em certas propriedades maiores ainda hoje acontece —, forma o monte principal, sede da herdade, casa-mãe, a funcionar como um activíssimo centro obreiro, sendo ao mesmo tempo local de recolha e pernoita, tanto para o gado como para a gente de trabalho.


Manuel Mendes (Roteiro Sentimental — Os Ofícios)


quarta-feira, 30 de julho de 2008

No alto mar

No alto mar
A luz escorre
Lisa sobre a água.
Planície infinita
Que ninguém habita

O sol brilha enorme
Sem que ninguém forme
Gestos na sua luz.

Livre e verde a água ondula
Graça que não modula
O sonho de ninguém.

São claros e vastos os espaços
Onde baloiça o vento
E ninguém nunca de delícia ou de tormento
Abriu neles os seus braços.



Sophia de Mello Breyner Andresen (Poesia)


terça-feira, 22 de julho de 2008

[A ria de Aveiro2]

A alma desta terra é na realidade a sua água. A ria, como o Nilo, é quase uma divindade. Só ela gera e produz. Todos os limos, todos os detritos vêm carreados na vazante até à planície onde repousam. Isto é água e estrume, terra vegetal que se transforma em leite e pão. Palpa-se a camada gordurosa sobre a areia. E além de fecundar e engordar, a ria dá-lhes a humidade durante todo o ano, e com a brisa do mar refresca durante o estio as plantas e os seres. Uma atmosfera humedecida constantemente envolve a paisagem como um hálito.


Raul Brandão (Os Pescadores)


sexta-feira, 18 de julho de 2008

Os meus livros 21

Volume 1: aldeia histórica de Linhares (área geográfica estudada: concelhos de Fornos de Algodres, Celorico da Beira, Gouveia, Seia e Manteigas)

Volume 2: aldeia histórica de Marialva (área geográfica estudada: concelhos de Trancoso e Meda)

Volume 3: aldeia histórica de Castelo Rodrigo (área geográfica estudada: concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa)

Volume 4: aldeias históricas de Almeida e Castelo Mendo (área geográfica estudada: concelhos de Pinhel, Almeida e Guarda)

Volume 5: aldeia histórica de Sortelha (área geográfica estudada: concelhos de Covilhã, Belmonte e Sabugal)

Volume 6: aldeias históricas de Idanha-a-Velha e Monsanto (área geográfica estudada: concelhos de Penamacor e Idanha-a-Nova)

Volume 7: aldeia histórica de Castelo Novo (área geográfica estudada: concelhos de Fundão e Castelo Branco)

Volume 8: aldeia histórica de Piódão (área geográfica estudada: concelhos de Oliveira do Hospital, Arganil, Pampilhosa da Serra e Oleiros)



Participei com grande satisfação e empenho no projecto da "Carta do Lazer das Aldeias Históricas (Clah)", da responsabilidade do Inatel, onde integrei um grupo de trabalho multidisciplinar no seio do qual fui responsável pela área do património natural e pela fotografia de paisagem e de natureza (fauna e flora). No âmbito da Clah foram produzidos diversos materiais de divulgação destacando-se uma colecção, em oito volumes, sobre as diferentes aldeias históricas e sua área de abrangência (no total foram estudadas 10 aldeias e 23 concelhos do interior beirão). Esta colecção teve uma edição conjunta Inatel|Diário de Notícias, no ano 2000.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

[A ria de Aveiro1]

Todas as águas do Vouga, do Águeda e dos veios que nestes sítios correm para o mar encharcam nas terras baixas, retidas pela duna de quarenta e tantos quilómetros de comprido, formando uma série de poças, de canais, de lagos e uma vasta bacia salgada. De um lado o mar bate e levanta constantemente a duna, impedindo a água de escoar; do outro é o homem que junta a terra movediça e a regulariza. Vem depois a raiz e ajuda-o a fixar o movimento incessante das areias, transformando o charco numa magnífica estrada, que lhe dá o estrume e o pão, o peixe e a água da rega. Abre canais e valas. Semeia o milho na ria. Povoa a terra alagadiça, e à custa de esforços persistentes, obriga a areia inútil a renovar constantemente a vida. Edifica sobre a água, conquistando-a, como na Gafanha, onde alastra pela ria. Aduba-a com o fundo que lhe dá o junco, a alga e o escaço, —detritos de pequenos peixes.


Raul Brandão (Os Pescadores)


quinta-feira, 10 de julho de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 13

Área serrana (Famalicão, concelho da Guarda)


Na Primavera, nas serranias graníticas desarborizadas e revestidas de matos de giestas, a floração dos arbustos dá vida nova à paisagem, emprestando-lhe tonalidades e contrastes que lhe confere ritmos cromáticos vigorosos. Na imagem, a cor amarela deve-se às flores da giesta-negral (Cytisus striatus).

domingo, 6 de julho de 2008

Exemplo

Toda a tarde a pensar no meu destino,
E o rio, com mais água ou menos água,
Sossegado a correr
Num areal que o nega!
Que lhe importa que o chão do seu caminho
Seja seco e maninho,
Se ele é uma eterna fonte que se entrega?!


Miguel Torga (Diário VI, 1953)

sábado, 21 de junho de 2008

Água

Água a correr na fonte.
Uma quimera líquida que sai
Das entranhas do monte
A saber ao mistério que lá vai…

Pura,
Branca, inodora e fria,
Cai numa pedra dura
E desfaz o mistério em melodia…



Miguel Torga (Diário II, 1942)


terça-feira, 17 de junho de 2008

Concelho da Guarda em imagens 1

Núcleo de castanheiro (Castanea sativa) e carvalho-negral (Quercus pyrenaica) na encosta sobranceira a Mizarela


A zona serrana vista a partir de Cubo


sexta-feira, 6 de junho de 2008

[Deriva]

Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som de suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o rosto de Eurydice das neblinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais

As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri



Sophia de Mello Breyner Andresen (Navegações, 1982)



segunda-feira, 2 de junho de 2008

Os meus livros 20

Capa de "Roteiro Turístico do Baixo Guadiana" (Associação Odiana, 1999)


Um aspecto do interior do Roteiro


Este roteiro diz respeito aos concelhos de Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Santo António. A minha colaboração neste projecto materializou-se na autoria de textos e de fotografia (paisagem, fauna e flora). Quanto à colaboração escrita, foi de minha responsabilidade a parte introdutória ("o território", "as condições geoclimáticas", "o meio natural") e diversos textos espalhados pela publicação, caracterizando o património natural de diversos locais/meios ecológicos ou descrevendo-o, ao longo de percursos pela região.
Este roteiro foi traduzido em inglês, francês e alemão.


quarta-feira, 28 de maio de 2008

[Timor]

............................................................

E eis-te no fim do mundo,
Costa verde e vermelha de Timor!
Mas que divina, extraordinária cor
A do teu céu, a do teu mar profundo!

                     ★

É de oiro a manhã de Díli,
Trila a distância o corlíli
Na frescura dos ribeiros.
Sussurra perpetuamente
A verde sombra premente
Dos salgueiros.

As cacôacs, de alegria,
Animam a romaria,
Quasi se afoga e desmaia
Na doçura langurosa
Da flor pálida e nervosa
Da papaia.

..........................................................

Alberto Osório de Castro (A Ilha Verde e Vermelha de Timor, 1943)


domingo, 25 de maio de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 12





A couve-do-mar (Calystegia soldanella) é uma erva da família Convolvulaceae. Calystegia é uma palavra que deriva do grego kalux, "taça", e stegos, "cobertura". Por sua vez, soldanella significa "pequena moeda" (do italiano soldo) devido à forma das suas folhas. Estas são reniformes, longamente pecioladas, carnudas e de um verde escuro. As flores são bastante grandes, solitárias, vistosas, rosadas e habitualmente apresentam listras brancas.
Trata-se de uma erva psamófila de caules prostrados, perene (proto-hemicriptófito, isto é, planta de caules folhosos cujas gemas de renovo se encontram à superfície do solo), relativamente comum nas zonas mais recuadas das praias (ante-duna), de todo o litoral português.
Floresce entre Abril e Agosto.
Originalmente distribuía-se pelas costas do Mediterrâneo, do Mar Negro, do Mar Cáspio e do Atlântico até à Escócia e à Dinamarca. Actualmente encontra-se por todo o mundo.