Livros no Blurb

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

[Um Reino Maravilhoso]1

Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição.
Terra-Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve. Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas.
Nos intervalos, esmagados entre a penedia, rios de água cristalina, cantantes, a matar a sede de tanta angústia. E de quando em quando, oásis da inquietação que fez tais rugas geológicas, um vale imenso, dum húmus puro, onde a vista descansa da agressão das penedias. Veigas que alegram Chaves, Vila Pouca, Vilariça, Mirandela, Bragança e Vinhais.
Mas novamente o granito protesta. Novamente nos acorda para a força medular de tudo. E são outra vez serras, até perder de vista.


Miguel Torga (Trás-os-Montes, Portugal)



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sábado, 26 de janeiro de 2008

Os meus livros 16

Capa de "Santarém: Um Roteiro Natural do Concelho" (António Pena, Lda., 1996)


Um aspecto do interior do roteiro


Este pequeno livro está estruturado em três grandes capítulos, a saber: "O Território", "Os Ambientes Ecológicos" e "Roteiro Natural". Foi esta a forma de organização que, daqui para a frente, passei a utilizar nos roteiros naturais. O primeiro capítulo trata os seguintes temas: "Algumas referências históricas" e "As condições geoclimáticas" (i.e. relevo, geologia e solos, clima, cursos de água e zonas naturais). O segundo grande capítulo subdivide-se em "A evolução da paisagem ao longo dos tempos" e "As espécies e os principais meios ecológicos". Finalmente, o capítulo "Roteiro Natural" compreende a descrição de 5 circuitos: Almoster e área envolvente; No coração do Bairro; De Pernes a Alcanhões cruzando o Bairro e o Campo; O triângulo Alcanede - Alcobertas - Valverde; Valverde - Amiais de Baixo - Abrã - Alcanede.
O livro termina com um glossário de termos técnicos, as referências bibliográficas e uma lista de espécies animais e vegetais do concelho.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

[Painel]2

Vejo as terras beiroas, que recordam
O Minho e Trás-os-Montes…
São desertos planaltos amarelos,
Verdes campos de milho
Entre íngremes colinas de pinheiros,
Onde murmura o vento o seu queixume
De cor crepuscular…
Afastadas montanhas: Caramulo
E Montemuro e a Estrela,
Virgem-mãe do Mondego, em penitência,
Vestindo um manto de perpétua neve.



Teixeira de Pascoaes (Obras Completas, vol. VI)


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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

[Painel]1

Surge Lisboa, branca, ao pé do Tejo azul;
A Lisboa das naus,
Construída em marfim, sobre colinas de oiro.
Vede o imenso
estuário… (é sonho ou realidade?)
Sob um Azul divino a desfolhar-se em asas!
São gaivotas voando em multidão, pairando
E pousando nas ondas, em que o céu
E o doirado do sol e as águas se misturam
Em tintas de quimera!
E, na Outra Banda, outeiros nus de argila;
Almada e o seu castelo,
Muros brancos de cal, pomares, arvoredos,
E ao fundo, em mancha azul, a Arrábida saudosa.


Teixeira de Pascoaes (Obras Completas, vol. VI)


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domingo, 20 de janeiro de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 8

A osga em pormenor


Indivíduo adulto



A osga (Tarentola mauritanica) existe na área mediterrânica ocidental (incluindo as ilhas) e no norte de África. Recentemente terá sido introduzida na ilha da Madeira de forma acidental. Foi também levada para diversos pontos do continente americano e de África. É um réptil bastante grande e robusto (chega a atingir 16cm de comprimento), de tons acastanhados ou acinzentados - que variam em função do estado "emotivo" do animal e do próprio substrato sobre o qual ele se encontra - com o corpo achatado, coberto por tubérculos que lhe conferem um aspecto espinhoso. Está activa de dia e de noite e abriga-se em fendas de rochas, em troncos de árvores (oliveiras e alfarrobeiras, por exemplo) ou em casas. É uma habitual frequentadora das habitações humanas onde chega a ser abundante (espécie antropófila). Prefere ambientes quentes e secos. Encontra-se por todo o país à excepção provável da província minhota embora seja sobretudo frequente para sul do Tejo. Alimenta-se de diversos invertebrados.

A osga não se encontra ameaçada. Trata-se de um animal que denota uma excepcional capacidade trepadora, conseguindo deslocar-se sobre vidro mantido na vertical. Esta sua extraordinária capacidade deve-se à micro-estrutura da face ventral dos seus dedos. Em determinadas situações ambientais ou meios ecológicos particulares chega a ser muito abundante.


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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

História de Verão

Uma abelha, dessas que dizem ser italianas, entrou pela janela, obstinou-se em escolher-me, poisa-me no ombro, descansa de seus trabalhos. Lisonjeado com aquela preferência, comecei a amá-la devagar, retendo a respiração, com receio que não tardasse a dar pelo seu engano, que cedo viesse a descobrir que não era eu a haste de onde se avistam as dunas. Mas o seu olhar tranquilizava, era calma ondulação do trigo. Agora só uma interrogação perturbava a minha alegria — comigo, como é que faria o seu mel?


Eugénio de Andrade (Memória Doutro Rio, 1978)


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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Fotografia 6

Praia da Adraga (imagem captada com uma Panasonic fz7 e conversor grande angular Olympus)


Um conhecido meu, sabendo do meu interesse pela fotografia, desde há algum tempo que me pede para lhe indicar uma câmara fotográfica, que possa utilizar. Já por várias vezes lhe falei dos principais tipos de máquinas digitais e das suas características mas quando lhe pergunto que tipo de fotografia pretende fazer, fica indeciso e percebo que não sabe muito bem o que responder. Curiosamente, das poucas vezes que se pronuncia sobre o assunto fala em adquirir uma máquina de cerca de 1.000 euros e, mais recentemente, parece ter optado por uma Sony Alpha. Finalmente acabou por me confessar que um dos aspectos mais importantes para ele é o de possuir uma câmara de renome, que faça sensação junto de amigos ou conhecidos.
Por esta não esperava! Há certos bens que se sabe conferirem estatuto a quem os ostente, entre os quais se contam canetas, isqueiros, carros e relógios mas confesso que nunca teria incluído uma máquina fotográfica neste conjunto. Estamos sempre a aprender!


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sábado, 12 de janeiro de 2008

[Aleluia nos montes]

Giestas em flor, matos agressivos em botões de oiro, flores minúsculas de urze juncam o solo; na relva dos prados, aos lados da vereda, florescem malmequeres brancos, malmequeres amarelos, corolas azuis, corolas roxas, de flores desconhecidas, rústicas e dum encanto sem par. As madressilvas brancas perfumam os caminhos; as silvas ostentam pequenas flores lilases; lírios crescem por entre rochas, e, nos quinteiros, sorriem ao sol as grandes flores ingénuas dos girassóis e as rosas róseas, das roseiras rústicas.

*

E ao longe era uma aleluia nos montes; tapetes de flores roxas, tapetes de flores lilases, amarelas, brancas, azuis, rosadas, estendidas como lenços de ramagens, nos seios das serras; e nos pomares dos casais eram macieiras em flor, pereiras em flor, pessegueiros em flor, laranjeiras em flor, nuvens de róseo, nuvens de branco — uma aleluia!


Abel Salazar (Recordações do Minho Arcaico, 1939)


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quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Os meus livros 15

Capa de "Anatídeos de Portugal" (Instituto Florestal, 1995)


Figura 1: Caracterização topográfica de um anatídeo (a ave que serviu de modelo é uma marrequinha (Anas crecca), mais propriamente um macho adulto em plumagem nupcial)


Um exemplo da descrição e caracterização das espécies


Destacável


Este livro teve um "parto" complicado mas felizmente acabou bem. Por um lado foi difícil chegar a um consenso com os técnicos e dirigentes do então Instituto Florestal sobre que tipo de livro fazer e que espécies de patos ele deveria descrever. Por outro lado realizei-o na altura em que me separei dos meus antigos sócios e comecei a trabalhar como freelancer.
Trata-se de um guia sobre os anatídeos (patos e afins) portugueses dirigido a caçadores. Na realidade vai para além daquilo que um guia da natureza pretende atingir, abarca também algumas espécies "parecidas" com os anatídeos e interessa a todos aqueles que gostam da natureza e/ou que nutrem um especial interesse pelas aves.
Foi o primeiro livro do género a ser feito por portugueses, para portugueses e sobre a realidade portuguesa de um determinado grupo de aves. Provavelmente por ter sido um projecto inédito, por razões semelhantes aquelas que foram referidas para os "Roteiros da Natureza" mas ainda porque foi um livro encomendado pelo "inimigo" (leia-se "o lobby da caça"), os Anatídeos de Portugal foi pura e simplesmente ignorado por todos aqueles que se movimentam na área da conservação da natureza, incluindo organizações como a Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), da qual sou um dos sócios fundadores.
O livro inicia-se com uma "Nota Prévia" que esclarece como surgiu e a quem se destina. Em "Apresentação da Obra" justifica-se o seu conteúdo e fornece-se a necessária explicação para entender a simbologia utilizada na descrição das várias espécies. "Introdução ao Grupo dos Anatídeos" fala deste grupo biológico, das suas características morfológicas e taxonómicas, do seu modo de vida e da influência humana sobre as suas populações. "Os Anatídeos em Portugal" refere-se à forma de ocupação e aos movimentos em território português. "Os Anatídeos Portugueses" é o guia propriamente dito, no qual se descrevem as espécies que ocorrem em território nacional. Num pequeno capítulo seguinte apresento algumas aves que se poderão confundir com os anatídeos e cuja inclusão no livro pretende evitar que os caçadores as abatam. Em "A Caça aos Patos" são focados diversos aspectos cinegéticos próprios dos anatídeos que interessam sobretudo aos caçadores. Seguem-se um glossário de termos técnicos, a bibliografia, um índice remissivo e um destacável com todas as ilustrações do livro, espécie a espécie.
Resta-me salientar que esta publicação deve grande parte do seu interesse às ilustrações da autoria do meu amigo Luís Gaspar.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

[Poema]

Uma pequena flor em si resume
o grande dia solitário

o dia em que o zumbir da abelha
é o ruído do mundo,
e no parecer igual é sempre incerto e vário.



Maria Alberta Meneres (Cântico de Barro, 1954)


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domingo, 6 de janeiro de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 7



Açude do Monte da Barca (concelho de Coruche)


Já apresentei aqui a albufeira do Peso, situada na zona alentejana (granítica) do concelho de Coruche. Apresento agora o açude do Monte da Barca, também pertencente ao município coruchense. Trata-se do maior armazém de água da região, com cerca de 2,5 km de comprimento e várias centenas de hectares de superfície. Esta albufeira localiza-se em plena charneca ribatejana (areias, cascalheiras e arenitos Mio-Pliocénicos), não longe da sede concelhia, e está envolvida por pinhais e pelo montado de sobro.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Tarde quente

Na tarde quente,
À beira do tanque, estava
Um bom silêncio dormente.

Havia, às vezes, deslizes
De insectos, na água quieta;
E reflexos felizes
De um voo de borboleta…

Leve zumbir de abelhas
Que vinham beber, poisando,
Sobre folhas velhas,
Flutuando…

… Dentre as ramagens, no silêncio mole,
Caíam nas águas, em sono brando,
— Caíam…
E ficavam tremulando —
Discos breves de sol.




Francisco Bugalho (Margens, 1931)


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