Livros no Blurb

quarta-feira, 28 de maio de 2008

[Timor]

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E eis-te no fim do mundo,
Costa verde e vermelha de Timor!
Mas que divina, extraordinária cor
A do teu céu, a do teu mar profundo!

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É de oiro a manhã de Díli,
Trila a distância o corlíli
Na frescura dos ribeiros.
Sussurra perpetuamente
A verde sombra premente
Dos salgueiros.

As cacôacs, de alegria,
Animam a romaria,
Quasi se afoga e desmaia
Na doçura langurosa
Da flor pálida e nervosa
Da papaia.

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Alberto Osório de Castro (A Ilha Verde e Vermelha de Timor, 1943)


domingo, 25 de maio de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 12





A couve-do-mar (Calystegia soldanella) é uma erva da família Convolvulaceae. Calystegia é uma palavra que deriva do grego kalux, "taça", e stegos, "cobertura". Por sua vez, soldanella significa "pequena moeda" (do italiano soldo) devido à forma das suas folhas. Estas são reniformes, longamente pecioladas, carnudas e de um verde escuro. As flores são bastante grandes, solitárias, vistosas, rosadas e habitualmente apresentam listras brancas.
Trata-se de uma erva psamófila de caules prostrados, perene (proto-hemicriptófito, isto é, planta de caules folhosos cujas gemas de renovo se encontram à superfície do solo), relativamente comum nas zonas mais recuadas das praias (ante-duna), de todo o litoral português.
Floresce entre Abril e Agosto.
Originalmente distribuía-se pelas costas do Mediterrâneo, do Mar Negro, do Mar Cáspio e do Atlântico até à Escócia e à Dinamarca. Actualmente encontra-se por todo o mundo.

terça-feira, 20 de maio de 2008

[Bananeiras]

Vou ao mercado — o mercado atrai-me: pequenino, com duas ou três árvores e uma fonte, todo ele transborda de fruta como um cesto cheio — cachos de bananas amarelas, alcofas de vindima a deitar fora com damascos, figos pretos sumarentos e entreabertos, a destilar sumo. Toda a fruta aqui é deliciosa e a banana deixa na boca um perfume persistente para o resto da vida.


Raul Brandão (As Ilhas Desconhecidas, 1926)


segunda-feira, 12 de maio de 2008

Horizonte

Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidéreo
'Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa (Mensagem)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

domingo, 4 de maio de 2008

[O Algarve e o Algarvio]

O que desde logo impressiona o viajante ao entrar nas planícies luminosas do Algarve é o pequeno porte do arvoredo, quase cosido à terra, figueiras, alfarrobeiras, oliveiras e amendoeiras, que de Lagos a Vila Real formam extensos bosquedos e pomares. É uma paisagem que seduz pelo imprevisto e o pitoresco, mas a que falta grandeza e verdadeiro élan. O terreno é, porém, como dissemos, todo cheio de culturas: vinhedos, hortas, searas, vergéis, onde amadurece a melhor laranja, a melhor romã e a melhor uva do país, — tudo arroteado com esmero, tudo tratado como um jardim, a que a palmeira anã ou das vassouras, a palmeira da igreja, o esparto, o amendoim, a batata doce, a própria bananeira, dão aspectos africanos. Apenas para a beira-mar grupos de pinheiros mansos, muito copados e redondos, lembram as árvores com que os primitivos flamengos enfeitavam o fundo das suas tábuas.
Na "serra", pelo contrário, abundam os sobreiros, os azinheiros e os medronheiros, e nas terras granitiformes de Monchique os castanheiros e os carvalhos de folha caduca, enquanto um raro e belo arbusto, a adelfeira ou loendro, enfeita os ribeiros com a sua folhagem lustrosa e as suas flores rosadas e brilhantes. Nos estreitos vales do Caldeirão, as linhas dos riachos e dos barrancos são verdadeiros jardinzinhos de loureiros-rosas, em Maio ou Junho todos floridos (…)
O aspecto do litoral, cheio de pomares, de hortedos e de arvoredos baixos, intercalados de casais alvíssimos com chaminés ligeiras e esguias, herdades com sua nora de alcatruzes divididas por sebes de cactos, piteiras e figueiras-da-índia, grandes restolhos de terra cor de vinho ou de romã, encanta às primeiras horas pelo imprevisto.


Raul Proença (Guia de Portugal, vol. II)