Livros no Blurb

sábado, 16 de agosto de 2008

[A azinheira]

De folhagem rija, com recorte picante, tinge-se de um verde baço, soturno, sendo o fruto de tamanho variável, a maioria das vezes aguçado. Nas azinheiras a que chamam boleta doce, a lande cria-se maior, de polpa mais rica e apetecida que a do sobreiro, apreciando-a o rural alentejano, que a come crua ou assada, como noutros lugares se come a castanha.

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Dada a rijeza da madeira, densa, inquebrável, além de a aproveitarem para lenha e carvão, empregam-na ainda hoje no fabrico de certas alfaias agrícolas […].

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Vive parasitariamente nas raízes da azinheira, como de alguns carvalhos, a saborosa túbara, tão apreciada pelos gastrónomos, e da qual são gulosos o porco de vara e o cerdo bravo, que na terra fossam quando delas lhes vem o cheiro. É a trufa que o francês tem artes para cultivar, e dá uma sopa divinal, certos recheios e guarnecimentos, como o famoso peru trufado, que é manjar principesco.


Manuel Mendes (Roteiro Sentimental — A Sul do Tejo)


terça-feira, 12 de agosto de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 14


Laverca (Alauda arvensis)



A Laverca é uma cotovia típica, de tons acastanhados, com diferentes riscas e manchas que lhe conferem um elevado mimetismo. A face ventral é clara e o peito listrado de castanho. Tem um canto variado, audível a grande distância, que entoa no ar por vezes a alturas apreciáveis. Evidencia, ao levantar ou pousar, uma faixa branca de ambos os lados da cauda e no bordo posterior das asas. Em Portugal ocupa zonas abertas (i.e. prados/lameiros, pousios-pastagem, alqueives e restolhos, arrozais e searas de sequeiro) tanto de Inverno como na época da reprodução.
Reproduz-se sobretudo a norte do Tejo, quer no litoral quer no cume das serras ou em planaltos elevados (e.g. planalto beirão). A sul nidifica em parte da área costeira e na serra de Monchique. Constrói o ninho no solo e põe de três a cinco ovos. Alimenta-se de insectos e matéria vegetal (incluindo sementes). Existe na Europa, na Ásia Central e no Japão.
De Inverno forma grandes bandos e é mais abundante no Alentejo. Existe uma população invernante considerável no nosso país quantitativamente igual ou mesmo superior à população reprodutora. Na serra da Estrela, onde cria, pode ser observada logo a partir de Março mesmo com o solo coberto de neve. Não se sabe qual o destino da população reprodutora após a nidificação, em especial a que provém das serras do centro e norte.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

[O monte]

O montado que dá a cortiça e a lande de engorda, os campos de semeadura e a charneca, para as terras alagadiças o arrozal, em muitos casos o lagar de azeite e nalguns a adega daquele vinho áspero, a criação do gado com o seu pastoreio, desde a vara dos porcos ao rebanho das ovelhas, as grandes matanças e o fabrico da queijaria, a manutenção da arribana dos bois e a cavalariça, em suma, quanto pessoal assalariado e adventício conflui ali de norma — o que em certas propriedades maiores ainda hoje acontece —, forma o monte principal, sede da herdade, casa-mãe, a funcionar como um activíssimo centro obreiro, sendo ao mesmo tempo local de recolha e pernoita, tanto para o gado como para a gente de trabalho.


Manuel Mendes (Roteiro Sentimental — Os Ofícios)