Livros no Blurb

quarta-feira, 30 de julho de 2008

No alto mar

No alto mar
A luz escorre
Lisa sobre a água.
Planície infinita
Que ninguém habita

O sol brilha enorme
Sem que ninguém forme
Gestos na sua luz.

Livre e verde a água ondula
Graça que não modula
O sonho de ninguém.

São claros e vastos os espaços
Onde baloiça o vento
E ninguém nunca de delícia ou de tormento
Abriu neles os seus braços.



Sophia de Mello Breyner Andresen (Poesia)


terça-feira, 22 de julho de 2008

[A ria de Aveiro2]

A alma desta terra é na realidade a sua água. A ria, como o Nilo, é quase uma divindade. Só ela gera e produz. Todos os limos, todos os detritos vêm carreados na vazante até à planície onde repousam. Isto é água e estrume, terra vegetal que se transforma em leite e pão. Palpa-se a camada gordurosa sobre a areia. E além de fecundar e engordar, a ria dá-lhes a humidade durante todo o ano, e com a brisa do mar refresca durante o estio as plantas e os seres. Uma atmosfera humedecida constantemente envolve a paisagem como um hálito.


Raul Brandão (Os Pescadores)


sexta-feira, 18 de julho de 2008

Os meus livros 21

Volume 1: aldeia histórica de Linhares (área geográfica estudada: concelhos de Fornos de Algodres, Celorico da Beira, Gouveia, Seia e Manteigas)

Volume 2: aldeia histórica de Marialva (área geográfica estudada: concelhos de Trancoso e Meda)

Volume 3: aldeia histórica de Castelo Rodrigo (área geográfica estudada: concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa)

Volume 4: aldeias históricas de Almeida e Castelo Mendo (área geográfica estudada: concelhos de Pinhel, Almeida e Guarda)

Volume 5: aldeia histórica de Sortelha (área geográfica estudada: concelhos de Covilhã, Belmonte e Sabugal)

Volume 6: aldeias históricas de Idanha-a-Velha e Monsanto (área geográfica estudada: concelhos de Penamacor e Idanha-a-Nova)

Volume 7: aldeia histórica de Castelo Novo (área geográfica estudada: concelhos de Fundão e Castelo Branco)

Volume 8: aldeia histórica de Piódão (área geográfica estudada: concelhos de Oliveira do Hospital, Arganil, Pampilhosa da Serra e Oleiros)



Participei com grande satisfação e empenho no projecto da "Carta do Lazer das Aldeias Históricas (Clah)", da responsabilidade do Inatel, onde integrei um grupo de trabalho multidisciplinar no seio do qual fui responsável pela área do património natural e pela fotografia de paisagem e de natureza (fauna e flora). No âmbito da Clah foram produzidos diversos materiais de divulgação destacando-se uma colecção, em oito volumes, sobre as diferentes aldeias históricas e sua área de abrangência (no total foram estudadas 10 aldeias e 23 concelhos do interior beirão). Esta colecção teve uma edição conjunta Inatel|Diário de Notícias, no ano 2000.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

[A ria de Aveiro1]

Todas as águas do Vouga, do Águeda e dos veios que nestes sítios correm para o mar encharcam nas terras baixas, retidas pela duna de quarenta e tantos quilómetros de comprido, formando uma série de poças, de canais, de lagos e uma vasta bacia salgada. De um lado o mar bate e levanta constantemente a duna, impedindo a água de escoar; do outro é o homem que junta a terra movediça e a regulariza. Vem depois a raiz e ajuda-o a fixar o movimento incessante das areias, transformando o charco numa magnífica estrada, que lhe dá o estrume e o pão, o peixe e a água da rega. Abre canais e valas. Semeia o milho na ria. Povoa a terra alagadiça, e à custa de esforços persistentes, obriga a areia inútil a renovar constantemente a vida. Edifica sobre a água, conquistando-a, como na Gafanha, onde alastra pela ria. Aduba-a com o fundo que lhe dá o junco, a alga e o escaço, —detritos de pequenos peixes.


Raul Brandão (Os Pescadores)


quinta-feira, 10 de julho de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 13

Área serrana (Famalicão, concelho da Guarda)


Na Primavera, nas serranias graníticas desarborizadas e revestidas de matos de giestas, a floração dos arbustos dá vida nova à paisagem, emprestando-lhe tonalidades e contrastes que lhe confere ritmos cromáticos vigorosos. Na imagem, a cor amarela deve-se às flores da giesta-negral (Cytisus striatus).

domingo, 6 de julho de 2008

Exemplo

Toda a tarde a pensar no meu destino,
E o rio, com mais água ou menos água,
Sossegado a correr
Num areal que o nega!
Que lhe importa que o chão do seu caminho
Seja seco e maninho,
Se ele é uma eterna fonte que se entrega?!


Miguel Torga (Diário VI, 1953)