Livros no Blurb

domingo, 24 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

[Pinhal do Rei]

Catedral verde e sussurrante, aonde
A luz se ameiga e se esconde
E aonde, ecoando a cantar,
Se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
Ditoso o "Lavrador" que a seu contento
Por suas mãos semeou este jardim;
Ditoso o Poeta que lançou ao vento
Esta canção sem fim…


Afonso Lopes Vieira (Ilhas de Bruma, 1917)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Trancoso

Há quem sustente que Trancoso foi fundada por Tarracon, "rei de Etiópia e Egipto, quando aportou a Espanha pelos anos de 730, a. C.", explicando o nome do monarca a proveniência do actual topónimo. Bem mais provável, no entanto, é que a origem da vila se deva a um castro e a sua designação ao nome de um dos "romanos que por aqui se deixaram ficar como colonos": Tara. Esta hipótese — tida como a mais credível pela maior parte dos estudiosos — considera que a evolução do topónimo se processou de Tara para Tarancos e Tarancoso, e, finalmente, Trancoso. E, a ser assim, fica afastada a possibilidade de o topónimo ser oriundo de Troncoso, que "quereria significar terra de muitos troncos ou árvores".


João Fonseca (Dicionário do Nome das Terras, 2005)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

[Caçador]2

As peripécias da caça e a cegueira com que galgava os montes é que o impediam à noite de relatar o trajecto seguido. Se quisesse e soubesse dizer por que trilhos passara, falaria de veredas e carreiros que nunca conhecera, descobertos na ocasião pelo instinto dos pés, e rasgados no meio de uma natureza cósmica, verde como uma alucinação, com alguns ramos vistos em pormenor, por neles pousar inquieto um pombo bravo ou se aninhar, disfarçada, uma perdiz. Às vezes até se admirava, ao regressar a casa, de tanta bruma e tanta luz lhe terem enchido simultâneamente os olhos. Serras a que trepara sem dar conta, abismos onde descera alheado, e um toco, um raio de sol, o rabo de um bicho, que todo o dia lhe ficavam na retina. É claro que nem sempre as horas eram assim. Algumas havia de perfeita consciência, em que nenhum pormenor da paisagem lhe escapava, as próprias pedras referenciadas, aqui de granito, ali de xisto. Mas, mesmo nessas ocasiões, qualquer coisa o fazia sonâmbulo do ambiente. Era tanta a beleza da solidão contemplada, despegava-se das serranias tanta calma e tanta vida, os horizontes pediam-lhe uma concentração tão forte dos sentidos e uma dispersão tão absoluta deles, que os olhos como que lhe abandonavam o corpo e se perdiam na imensidão. Simplesmente, essa diluição contínua que sofria no seio da natureza não excluía uma posse secreta de cada recanto do seu relevo. Uma espécie de percepção interior, de íntima comunhão de amante apaixonado, capaz de identificar o panasco de Alcaria pelo cheiro ou pelo tacto.


Miguel Torga (Novos Contos da Montanha)


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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Os meus livros 17

Capa de "Região de Turismo da Planície Dourada. Roteiro Natural" (António Pena, Lda., 1998)


Um aspecto do interior do Roteiro


A Região de Turismo da Planície Dourada abrange todo o Baixo Alentejo à excepção do concelho de Odemira. Compreende por isso os municípios seguintes: Alvito, Cuba, Vidigueira, Moura, Barrancos, Ferreira do Alentejo, Beja, Serpa, Aljustrel, Ourique, Castro Verde, Mértola e Almodôvar. Alguns destes concelhos são dos maiores do país. Por outro lado, o Baixo Alentejo é porventura a província portuguesa de menor densidade populacional e aquela onde ocorrem as maiores extensões de habitats estepários, de montados e de pousios-pastagem. O Leste da região é atravessado por um dos grandes rios ibéricos — o Guadiana.
Em 2002 foi editada a versão inglesa deste roteiro: "Planície Dourada Tourism Region. Nature Guide" (António Pena, Lda.).

domingo, 10 de fevereiro de 2008

[Caçador]1

A caça fora a maneira de se encontrar com as forças elementares do mundo. E nenhuma razão conseguira pelos anos fora desviá-lo desse caminho. A meninice começara-lhe aos grilos e aos pardais, a juventude e a maioridade passara-as atrás de bichos de pêlo e pena, e agora, velho, as contas do seu rosário eram meia dúzia de cartuchos que, sentado, ia esvaziando no que aparecia. E a vida, a de todos os dias e de toda a gente, com lágrimas e alegrias, ambições e desalentos, ficara-lhe sempre ao lado, vestida de uma realidade que não conseguia ver. A aldeia formigava de questões e raivas, e ele coava-lhe apenas a agitação de longe, vendo-a fumegar na distância, ao anoitecer, e acariciando-a então num cansaço doce e contemplativo.


Miguel Torga (Novos Contos da Montanha)


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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 9

Aspecto geral da planta


Pormenor das flores


A erva-do-homem-enforcado (Aceras anthropophorum) deve o seu nome comum à forma das suas peculiares flores. Trata-se de uma erva especial, isto é, de uma orquídea, que pode passar facilmente despercebida ao observador dado o seu reduzido tamanho e a cor pouco chamativa das suas pequenas flores. Esta espécie é aparentada com as orquídeas do género Orchis com as quais, por vezes, forma híbridos viáveis.
Tem folhas basais de forma oval e verdes. As flores estão compactadas numa densa e estreita espiga, mais ou menos cilíndrica. É uma erva perene (geófito com raízes tuberosas) relativamente comum, calcícola (própria de solos calcários), que se desenvolve em terrenos secos, seja em clareiras de formações arbustivas ou em arrelvados xerofílicos.
Floresce de Março a Maio.
Encontra-se na Europa mediterrânica, no Norte de África e nalguns países da Europa central (Alemanha, Suiça) e ocidental (Inglaterra, Bélgica, Holanda). Em Portugal, a sua presença acompanha fielmente a distribuição dos solos derivados de calcário. Ocorre, por isso, no barrocal algarvio, na Estremadura, no Ribatejo e na Beira Litoral.



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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

[Um Reino Maravilhoso]2

Mas o panorama zoológico não se fica pelo animal de vista baixa que se desfaz em torresmos e chouriços. Passando pelo lobo do Eusébio Macário, que só por si vale um tigre do Kipling, pelo boi de Miranda, que só lhe falta falar, e pelo bicho da seda que de Bragança aveludou em tempos Seca e Meca, temos ainda a perdiz, a fera da Mantelinha, que nenhum forasteiro deve deixar de ver. Em Outubro, quando o sol ainda a espreguiçar-se de sono lava a cara na fonte de Casal de Loivos, certo perdigueiro, que sobe o monte colado ao chão já com um aceno perfumado a fazer-lhe cócegas no nariz, pára de repente siderado. Manda-se-lhe dar a pancada. O navarro entra, e só então Sua Senhoria aparece.
Cabeça alta de quem olha o mundo de cima, peito largo de quem desafia o vento, pés seguros de almocreve. — Pfrrruuu… u… u. Lá vai ela! Quando o tiro lhe acerta e cai, parece uma deusa morta… No cinto, ainda se lhe tem respeito…


Miguel Torga (Trás-os-Montes, Portugal)


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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

N'oubliez jamais

Papa, why do you play our same old songs
Why do you sing with the melody
Cause down on the street something's goin' on
There's a brand new beat
And a brand new song
(He said) In my life there was so much anger
Still I have no regrets
Just like you I would search forever
So dance your own dance
And never forget

N'oubleeay jamay
I heard my father say
Every generation has its way
And need to disobey
N'oubleeay jamay
It's in your destiny
A need to disagree
And rules get in the way
N'oubliez jamais

Mama, why do you dance to the same old songs
Why do you sing only harmony
Cause down on the street something's goin' on
There's a brand new beat
And a brand new song
(She said) In my heart there's a young girl's passion
For a lifelong duet
And someday soon someone's smile will haunt you
So sing your own song
And never forget

N'oubleeay jamay
I heard my father say
Every generation has its way
And need to disobey
N'oubleeay jamay
It's in your destiny
A need to disagree
And rules get in the way
N'oubliez jamais

What is this game
Searching for love affairs
Is obsolete
One of these days you say that
Love will be the cure
I'm not so sure



Joe Cocker (Across from Midnight, 1997)


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