Livros no Blurb

domingo, 4 de maio de 2008

[O Algarve e o Algarvio]

O que desde logo impressiona o viajante ao entrar nas planícies luminosas do Algarve é o pequeno porte do arvoredo, quase cosido à terra, figueiras, alfarrobeiras, oliveiras e amendoeiras, que de Lagos a Vila Real formam extensos bosquedos e pomares. É uma paisagem que seduz pelo imprevisto e o pitoresco, mas a que falta grandeza e verdadeiro élan. O terreno é, porém, como dissemos, todo cheio de culturas: vinhedos, hortas, searas, vergéis, onde amadurece a melhor laranja, a melhor romã e a melhor uva do país, — tudo arroteado com esmero, tudo tratado como um jardim, a que a palmeira anã ou das vassouras, a palmeira da igreja, o esparto, o amendoim, a batata doce, a própria bananeira, dão aspectos africanos. Apenas para a beira-mar grupos de pinheiros mansos, muito copados e redondos, lembram as árvores com que os primitivos flamengos enfeitavam o fundo das suas tábuas.
Na "serra", pelo contrário, abundam os sobreiros, os azinheiros e os medronheiros, e nas terras granitiformes de Monchique os castanheiros e os carvalhos de folha caduca, enquanto um raro e belo arbusto, a adelfeira ou loendro, enfeita os ribeiros com a sua folhagem lustrosa e as suas flores rosadas e brilhantes. Nos estreitos vales do Caldeirão, as linhas dos riachos e dos barrancos são verdadeiros jardinzinhos de loureiros-rosas, em Maio ou Junho todos floridos (…)
O aspecto do litoral, cheio de pomares, de hortedos e de arvoredos baixos, intercalados de casais alvíssimos com chaminés ligeiras e esguias, herdades com sua nora de alcatruzes divididas por sebes de cactos, piteiras e figueiras-da-índia, grandes restolhos de terra cor de vinho ou de romã, encanta às primeiras horas pelo imprevisto.


Raul Proença (Guia de Portugal, vol. II)


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