No silêncio ardente do dia parado,
Há lida de gente no denso montado.
Há troncos despidos, já lívidos, frios,
E troncos que esperam, em funda ansiedade,
Com gestos convulsos, de sonhos sombrios,
Em dor e silêncio, por toda a herdade.
Os pés descalços trepam ágeis,
Sobem…
O machadinho crava-se e segura,
Como se fora um croque de abordagem,
O homem
A subir, na faina dura.
E lembra-me, assim vistos a distância,
— Os vultos a trepar pelos troncos gigantes —
Como, em contos de infância,
Cornacas dominavam enormes elefantes.
— Que os troncos majestosos e inermes
Têm o ar daqueles paquidermes,
Lentos, laboriosos, resignados. —
Desses trágicos braços contorcidos,
Que mais tarde, a sangrar,
São a gala maior desta paisagem,
E, agora, estão gelados, confrangidos
Pela tortura sem par,
No pino da estiagem,
Vão homens rudes, escuros e suados,
Lenço metido sob o chapéu largo,
Arrancando aos bocados,
Em férrea luta obscura,
Com qualquer coisa de febril e amargo,
A epiderme dura.
— Oh, velhas árvores dos montados!
E há pasmo na canícula.
E há silêncio, de assombro, na paisagem!
— Troncos dilacerados…
Francisco Bugalho (Paisagem)
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