Ora um dia sucedeu que dois gigantes, um vindo de Trás-os-Montes e o outro da Beira Alta, mais gigantes na alma que no corpo, galgaram as serras, desceram as encostas e, depois de olhar os fundões do rio e provar o néctar dos frutos bravos, entenderam que aquela terra e aquele rio eram, pela sua áspera grandeza, dignos da labuta de gigantes. E resolveram meter o picão às fragas; reduzi-las a terrunha; amparar os seus "veios" estreitos com "socalcos" de pedra solta; e plantar sobre as escarpas, que eram sarças de fogo, os primeiros bacelos de videira.
Quando, mais tarde, voltaram, viram com surpresa que as vides carregavam e as uvas ressumavam um licor capitoso, que lhes dava leveza aos passos e alegria às almas.
Outros e mais outros, todos gigantes, vieram trazidos pela fama e, arquejando, dobrados sobre o chão, praguejando e gemendo, lacerando as mãos e os membros contra as lascas das ardósias, banhando a terra em suor e sangue, arrancaram do xisto novos "veios" que ampararam com novos "socalcos": e o que fora a montanha deserta, tornou-se em jardim suspenso.
Quando, mais tarde, voltaram, viram com surpresa que as vides carregavam e as uvas ressumavam um licor capitoso, que lhes dava leveza aos passos e alegria às almas.
Outros e mais outros, todos gigantes, vieram trazidos pela fama e, arquejando, dobrados sobre o chão, praguejando e gemendo, lacerando as mãos e os membros contra as lascas das ardósias, banhando a terra em suor e sangue, arrancaram do xisto novos "veios" que ampararam com novos "socalcos": e o que fora a montanha deserta, tornou-se em jardim suspenso.
Jaime Cortesão (Portugal — A Terra e o Homem)