Livros no Blurb

quarta-feira, 30 de abril de 2008

[Appendice]

Elaborou-se um projecto de codigo administrativo, liberal é certo, mas excessivamente theorico; se o applicassem tal qual o elaboraram, daria sem duvida os mesmos resultados negativos que a tentativa assignalada na nossa obra. N'um paiz em que os cidadãos quasi não possuem a tradição do governo local, é indispensavel demarcar com precisão o limite das competencias e dos poderes, bem como os meios de controle. Deve-se tambem procurar libertar a gestão dos negocios locaes dos mesquinhos interesses de partido e das preoccupações eleitoraes.

Léon Poinsard (Portugal Ignorado, 1912)

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Os meus livros 19

Capa de "Roteiro Natural do Concelho de Tavira" (C. M. de Tavira, 2001)


Um aspecto do interior do Roteiro


De todos as publicações que realizei ou nas quais colaborei, este roteiro natural é o mais pobre do ponto de vista gráfico. Isto deveu-se ao facto da Câmara Municipal — a responsável pelo projecto gráfico e pela impressão —, ter preferido utilizar a "prata da casa" para poupar nas despesas.


terça-feira, 22 de abril de 2008

[Motivos Alentejanos] I

Os sobreiros sonham
sonhos desvairados,
que só os pastores
e as pedras suspeitam.

Sonham que são livres
e vão pelo mundo,
com raízes de água
e cabelos soltos.

No céu por lavrar,
as nuvens são cardos
e o sol um milhafre
que esvazia os olhos.

Dos sonhos só resta
a angústia que os ousa.
A angústia é concreta.
Os sonhos são sombras.

Seguros à terra
com garras de bronze,
os sobreiros sonham
impossíveis rumos.



Armindo Rodrigues (Obra Poética, vol. III)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Animais, plantas e paisagens de Portugal 11


A raposa (Vulpes vulpes) é o mamífero carnívoro europeu mais conhecido e o mais comum. Pode chegar aos 90cm de comprimento (cauda não incluída) e, nalguns casos, aos 15 kg de peso. A sua pelagem, de um castanho-encarniçado, é farta e bela. A cauda é comprida, grossa e de ponta branca. A parte ventral do corpo é igualmente branca. Nas patas e na face posterior dos pavilhões auriculares evidencia-se uma tonalidade negra contrastante. É de actividade principalmente nocturna.
Trata-se de uma espécie extremamente adaptável devido ao seu carácter oportunista, podendo inclusivamente viver na proximidade de grandes cidades ou mesmo no seu seio caso existam parques onde ela se recolha. Excava a sua própria toca e a sua dieta alimentar, embora principalmente baseada em micromamíferos (ratos e musaranhos) e lagomorfos (coelhos e lebres), pode incluir um pouco de tudo inclusivamente restos de alimentação humana encontrados em lixeiras ou carniça.
O seu abate é permitido como medida de gestão (controlo de predadores) para equilibrar a dinâmica populacional das espécies-presa de interesse cinegético.


domingo, 13 de abril de 2008

Ganhão

Minha junta vai puxando
Morosa, lenta, cansada;
Que a leiva que vai virando,
Vai ficando bem virada.

Passam dois corvos grasnando.
E à minha volta mais nada…

A relha que rasga a terra
Rasga e beija docemente.
— Breve se acaba esta guerra
Só de sonhar a semente.

Nos vales de terra molhada
Piam abibes em bando.

E a leiva sobe na aiveca
E vai ficando tombada,
Ao seu feitio moldada,
Sobre outra leiva já seca.

Minha junta vai puxando
Pesada, lenta, cansada…

Ao fundo, no horizonte
Só um sobreiro pasmado;
Nem um ruído de fonte,
Nem um chocalho de gado…

Nem algum cantar perdido
De certas horas felizes.
Só canta no meu ouvido
Este estalar das raízes.

A leiva que vou virando
Vai ficando bem, virada…



Francisco Bugalho (Poesia, 1960)

sábado, 5 de abril de 2008

Reportagem

Aborrecido, passeio
Pelas ruas da cidade.
Deixei agora o Rossio
E atravesso o Borratém.
Deu meia-noite pausada
No Carmo. Um amigo meu
Passa e tira-me o chapéu.
Paro a uma esquina. Esmoreço
Numa saudade que surge
Dentro de mim não sei como:
Uma saudade infinita,
Misto de choro e revolta.
Alguém me chama no escuro:
Volto a cabeça. A uma porta
Um vulto mexe. - Sou eu!,
Não fuja, sou eu... - Mas quem?
Retrocedo, não conheço
A mulher que me chamou.
Na verdade ninguém ouve,
Ninguém distingue o apelo
Do amor que anda perdido
No mistério de mentir:
Deixo-a ficar onde estava;
Dou-lhe um cigarro e um sorriso
Dizendo que vou dormir.
Atira-me boa-noite
Num frio olhar de ofendida.
Meto à rua do Amparo
A perguntar se esta vida
Não terá finalidade
Menos sórdida e banal?
Atafonas. Uma Igreja.
Mais acima o Hospital.
Um marinheiro propõe
A esta que atravessou
A rua do Benformoso
Irem tomar qualquer coisa
Na Leitaria da Guia.
Ela pára. É uma catraia
Que talvez não tenha ainda
Dezasseis anos. Bonita.
Devagar vou-me chegando
Xaile, uma blusa, uma saia...
E oiço a fala dos dois.
Ele parece uma onda,
Impetuoso, alagante.
Ela é um breve bandó
Num corpito provocante.
E seguem... Ele, encostado,
Muito encostado e aquecido
Lá vai como se encontrasse
Um objecto perdido
Que foi milagre encontrá-lo...
Cortaram além!... E param?
Oiço o rebate de um estalo
E um grito subtil de prece
Amedrontada na fuga...
Desço ao Marquês do Alegrete.
Um candeeiro sinistro
Numa casa que se aluga...
Vejo um polícia. Arrefece.
Um grupo de três sujeitos
Discute o vinho de Torres.
Varrem as ruas. Um gato
Bebe água numa sarjeta;
Uma carroça parou
Carregada de hortaliça
Junto à Praça da Figueira.
Corto a rua dos Fanqueiros
Já um pouco estropiado...
Acendo um cigarro. A noite
Lembra um fantasma assustado...
Chego ao Terreiro do Paço.
O arco da rua Augusta
Parece mais imponente
Na minha desolação...
Vou até ao cais. Em baixo
O rio bate sem reacção...
A maré vasa. No céu,
Vão-se apagando as estrelas.
Um guarda-fiscal dormita
Na guarita, mas de pé.
Um velhote com um cesto
E uma lata vem dizer-me
Se eu quero beber café.
Num banco de pedra. Cismo.
E ali me fico a cismar
Em coisa nenhuma... O dia
Principia a querer ser
Mais um passo na incerteza
Das nossas aspirações...
As águas do rio a escutar
Parecem adormecidas...
E o dia nasce! Vem triste,
Nublado, fosco, cinzento,
Enquanto pela cidade
A vida acorda e desata
O matinal movimento...

António Botto

terça-feira, 1 de abril de 2008

Quinta das Canadas 16

Rebanho de ovelhas bordalesas


Lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus)


Novas folhas de bordo (Acer sp.)