quinta-feira, 27 de novembro de 2008
domingo, 23 de novembro de 2008
[Melão]
Ali mesmo de fronte, um estendal de melões desafiava-lhe os desejos. Crescia-lhe água na boca. Havia um amarelo, raiado de verde, que levava a palma aos outros todos. Devia ser como mel — doirado e doce a desfazer-se nos dentes. Sumarento, como uma laranja, para lhe matar a sede.
*
Era um monte deles, mas só aquele a desafiava. Sentia a polpa das talhadas nos lábios secos e gretados, a ressumar pingos doces que nem uvas moscatéis.
Alves Redol (Avieiros)
Alves Redol (Avieiros)
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Os meus livros 24
Um aspecto do interior do Roteiro
Apesar da má imagem que por vezes habita o nosso imaginário acerca deste concelho, o município de Loures ainda mantém muitas das características do verdadeiro campo mesmo às portas de Lisboa. Aqui, muitos dos hábitos e ritmos da vida rural permanecem vivos e algumas das suas paisagens recordam as Ilhas Britânicas. Como tal, animais e plantas associados ao trabalho da terra, à presença de gado em pastagens, a pequenos bosquetes e a sebes vivas dominam as comunidades biológicas.
Apesar da má imagem que por vezes habita o nosso imaginário acerca deste concelho, o município de Loures ainda mantém muitas das características do verdadeiro campo mesmo às portas de Lisboa. Aqui, muitos dos hábitos e ritmos da vida rural permanecem vivos e algumas das suas paisagens recordam as Ilhas Britânicas. Como tal, animais e plantas associados ao trabalho da terra, à presença de gado em pastagens, a pequenos bosquetes e a sebes vivas dominam as comunidades biológicas.
sábado, 15 de novembro de 2008
Natureza-morta com frutos
1.
O sangue matinal das framboesas
escolhe a brancura do linho para amar.
2.
A manhã cheia de brilhos e doçura
debruça o rosto puro na maçã.
3.
Na laranja o sol e a lua
dormem de mãos dadas.
4.
Cada bago de uva sabe de cor
o nome dos dias todos do verão.
5.
Nas romãs eu amo
o repouso no coração do lume.
Eugénio de Andrade (Ostinato Rigore)
O sangue matinal das framboesas
escolhe a brancura do linho para amar.
2.
A manhã cheia de brilhos e doçura
debruça o rosto puro na maçã.
3.
Na laranja o sol e a lua
dormem de mãos dadas.
4.
Cada bago de uva sabe de cor
o nome dos dias todos do verão.
5.
Nas romãs eu amo
o repouso no coração do lume.
Eugénio de Andrade (Ostinato Rigore)
domingo, 9 de novembro de 2008
Animais, plantas e paisagens de Portugal 16
Linhares da Beira, no concelho de Celorico da Beira, é uma das Aldeias Históricas de Portugal. Com o seu imponente castelo, a simpatia da sua gente e a sua posição dominante, debruçada sobre a bacia de Celorico, esta mimosa aldeia beirã detém um património considerável e merece uma aturada visita.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
[Laranjal]
Nos seus longos passeios solitários pelo pomar e pelas terras, Margarida cortava às vezes uma folha de inhameiro, e, afunilando-a na mão, chegando-a a uma bica de rega, bebia grandes goladas daquele líquido macio e pesado, que ficava no veludo da folha com o aspecto de prata ou de mercúrio. As laranjas já estavam grossas e douradas nas árvores. Algum botãozinho de uma floração temporã alternava com os ramos vergados ao peso dos frutos que um sol de pouca dura ia adoçando e adelgaçando. Margarida rondava as laranjeiras quase pé ante pé, pesquisando aquela frutificação bela e ardente na manhã que subia emborralhada, contando as laranjas milagrosamente acamadas numa pernada só, tirando-lhes uma ou outra cochonilha com a ponta da unha, — enfim, como que lendo, criticando as páginas daquele laranjal da Urzelina, autêntica biblioteca sem leitores.
Às vezes, algum tentilhão ou vinagreira esvoaçava entre as folhas; um botão de flor de laranjeira, rijo e encerado, ficava a tremer da fuga da ave assustadiça.
Às vezes, algum tentilhão ou vinagreira esvoaçava entre as folhas; um botão de flor de laranjeira, rijo e encerado, ficava a tremer da fuga da ave assustadiça.
Vitorino Nemésio (Mau Tempo no Canal)
sábado, 1 de novembro de 2008
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