Livros no Blurb

sábado, 1 de dezembro de 2007

Fuselas

Migram na salsugem das nortadas
dos litorais do sul, a grande altura,
para rochas de névoa e alcantis.
Medrosas de perder-se, até de dia.

Voam no areal tingido de detritos,
tombam pelos campos já lavrados
em busca de larvas de besouro.

Entre os cactos abrem clareiras
e a fusela cruza o caudal do sol.
Cresce o fermento das encantações:
seixos, regressos, esmaltes de orvalho,
a música tardia dos seus gritos.

Tuas mãos colhem gerânios,
plantas migratórias, com difíceis folhas,
aí a fusela irá pousar.



Joaquim Manuel Magalhães (Segredos, Sebes, Aluviões, 1981)


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