Livros no Blurb

domingo, 22 de julho de 2007

As saudades do mar

Escoam-se os minutos vãos
como se escoa o pranto
e eu olho com raiva e espanto
as minhas mãos.

Vazias. Estrangularam o vento.
E seu voo, quando querem voar,
é lento como o desalento.

— Que saudades do mar.

Do mar daquela terra estilhaçada
que é minha, da minha raça
que não tem direito a nada
mas tem direito à desgraça.

Desgraça. E as minhas mãos olhando,
com raiva e espanto, eu cismo
que são dois pedaços de cortiça boiando
no tempo, à beira do abismo.

Sidónio Muralha (in Fanha, J. & Letria, J.J., 2002: Cem poemas portugueses do adeus e da saudade. Terramar)

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