Escoam-se os minutos vãos
como se escoa o pranto
e eu olho com raiva e espanto
as minhas mãos.
Vazias. Estrangularam o vento.
E seu voo, quando querem voar,
é lento como o desalento.
— Que saudades do mar.
Do mar daquela terra estilhaçada
que é minha, da minha raça
que não tem direito a nada
mas tem direito à desgraça.
Desgraça. E as minhas mãos olhando,
com raiva e espanto, eu cismo
que são dois pedaços de cortiça boiando
no tempo, à beira do abismo.
Sidónio Muralha (in Fanha, J. & Letria, J.J., 2002: Cem poemas portugueses do adeus e da saudade. Terramar)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário